28/05/2013 - 11:52
Depois da tempestade, vem a bonança. O velho ditado popular parece adequado para descrever a nova etapa vivida pelo setor sucroalcooleiro brasileiro. Após dois anos de vacas macérrimas, nas safras de 2011 e 2012, as usinas tiveram um primeiro alento em janeiro, com o anúncio feito pelo governo do aumento da proporção de álcool na gasolina, de 20% para 25%. Mais recentemente, na última semana de abril, saíram do pacote federal de bondades mais duas boas notícias aos usineiros e produtores: a retirada do PIS/ Cofins para o etanol, que atualmente é de R$ 0,12 por litro, e uma linha de crédito de R$ 6 bilhões, com juros reduzidos, para renovação de canaviais e estocagem. “Essas medidas não são a salvação da lavoura, mas ajudarão o setor a sonhar com um futuro”, diz Antonio de Pádua, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
Com o lançamento das medidas, anunciadas pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e de Minas e Energia, Edison Lobão, no dia 23 de abril, o governo não pretende reduzir o preço do etanol na bomba de combustível, mas melhorar a margem de lucro do setor. “O objetivo principal dessa redução é dar condições para viabilizar mais investimentos”, afirmou Mantega, na ocasião. “A redução dos preços na bomba virá com o tempo.”
Embora o setor ainda não saiba de que forma a redução da incidência de PIS/Cofins para o etanol funcionará na prática, a Unica acredita que os R$ 970 milhões, que deixarão de ser arrecadados anualmente pelo governo, devem ser divididos entre toda a cadeia. “O benefício não será necessariamente para o produtor, podendo ficar, parcialmente, com os outros elos da cadeia”, diz Pádua.
Já a oferta de crédito para renovação de canaviais deve trazer uma redução de 3% a 4% no juro final. Uma vez aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, a medida deve servir como estímulo para a manutenção ou o aumento dos índices de renovação e expansão dos canaviais, vistos na última safra. Segundo dados da Unica, na safra 2012/2013, o índice de renovação dos canaviais chegou a 20% da área, contra os 15% da safra anterior e os 12% da safra 2010/2011. “Só com esse aumento da área de renovação, a idade média do canavial caiu de 3,5 anos para 3,3 anos”, afirma Pádua. “Com o canavial mais novo a produtividade aumenta.”
Apesar de o produtor ter ganho um novo gás com as medidas governamentais, há motivos para preocupação no horizonte. Nos últimos cinco anos, cerca de 40 usinas da região Centro-Sul, encerraram suas atividades, por falta de competitividade e endividamento alto. E a previsão é que outras 12 fechem as portas nesta safra 2013/2014, de acordo com a Unica. Para Narciso Bertholdi, diretor-executivo da Usina São João, de Araras (SP), esse quadro não se deve apenas à ausência de medidas para auxiliar o setor, mas também da acomodação do mercado.
Ele lembr a que em apenas cinco anos, entre a safra 2006/2007 e a safra 2010/2011, mais de 100 usinas foram abertas, com empresários atrás dos lucros gerados pelo boom do etanol e pelo estímulo do uso dos carros flex, numa manifestação explícita do chamado “efeito manada”. Entretanto, nem todos possuíam competitividade e, com a crise enfrentada nos dois últimos anos, muitos tiveram de sair do negócio”, diz Bertholdi. Segundo ele, um dos problemas é que a maior parte das novas usinas se dedicou exclusivamente à produção do etanol. “Na agricultura, diversificar é a palavra para não quebrar”, diz Bertholdi. “Não dá para uma usina colocar todas suas fichas no etanol, tem de produzir açúcar para reduzir riscos.”
A tese de que o jogo está virando foi reforçada pela expectativa para a safra 2013/2014 divulgada pela Unica. A produção de cana deve ficar 10% maior, chegando a 589 milhões de toneladas. Já a produção de etanol crescerá 25%, passando de 21 bilhões de litros em 2012, para 25 bilhões este ano. O açúcar também verá um incremento em sua produção, de 4%. Com isso, a Unica aposta em uma safra mais alcooleira, com o mix de produção de 46% de açúcar e 53% de etanol.