28/08/2013 - 12:49
O Programa Carne Angus Certificada nasceu, há uma década, coordenado pela Associação Brasileira de Criadores da raça (ABA), com sede em Porto Alegre, com o objetivo de criar parcerias entre pecuaristas e frigoríficos. Atualmente, é o principal projeto em andamento no País, a colocar no mercado carne de qualidade, com selo de garantia de associação, assim como fazem os americanos com a Certified Angus Beef desde 1978. A carne brasileira é vendida em São Paulo, no Paraná e no próprio Rio Grande do Sul, mas, até o mês passado, os gaúchos não tinham uma loja exclusiva para a raça. A primeira loja, inaugurada no dia 5 de agosto, foi possível por meio de um acordo da ABA com a Cooperativa Cotripal, de Panambi, no interior do Estado. “O namoro que levou à criação da loja exclusiva para a venda de carne angus durou um ano”, diz o pecuarista Reynaldo Titoff Salvador, da Cabanha Cia Azul, de Uruguaiana, e diretor do Programa Carne Angus Certificada. “Mas valeu a pena o esforço, pois a loja será uma bela vitrine para os criadores da raça.” A Cotripal é uma potência em sua região de atuação. Possui 3,4 mil cooperados, recebe por ano 3,5 milhões de sacas de soja, 400 mil sacas de trigo, 400 mil sacas de milho e possui três hipermercados. Para abastecer de carne as gôndolas de suas lojas, também possui seu próprio frigorífico, com abate semanal de 200 animais. “É um casamento perfeito”, diz Salvador.
Para participar do programa da ABA, a cooperativa gaúcha reformou sua principal unidade para receber a loja exclusiva para a carne da raça britânica, que se chama Angus Premium Cotripal. Para o presidente da cooperativa, Germano Döwich, o investimento vale a pena. “Vender uma marca com um produto reconhecido como bom pelo consumidor agrega valor ao negócio”, diz ele. “E não pensamos em cobrar mais do consumidor, porque a boa carne sempre é um forte apelo para que ele escolha seu local de compras de tantos outros produtos.” No entanto, na outra ponta da cadeia bovina, a história muda. Os produtores de gado angus vão ganhar mais que outros pecuaristas na venda de bois à Cotripal. Como política de incentivo para atrair fornecedores, a cooperativa, que sempre deu uma bonificação de até 6% sobre o preço da arroba paga na região, vai aumentar para 10% esse estímulo, no caso dos criadores de angus.
A parceria com a Cotripal também tem um apelo a mais para incentivar a produção de animais angus. Enquanto os outros oito frigoríficos que estão integrados ao projeto, no País, requerem animais que tenham, no mínimo, um rendimento de carcada de 225 quilos para pagar a bonificação máxima, a Cotripal se contenta com animais mais leves, de 170 quilos. “isso significa reses de 18 a 20 meses de idade e que não demandam tanto esforço do criador”, diz Salvador. “Além do mais, com esse peso, as fêmeas que, em geral, são mais leves, entram na faixa de bonificação.”
O programa de carne de qualidade de Panambi atrai criadores como os irmãos Ademir e Divalni Soldera, que começaram a trabalhar com a raça angus em 2005. A principal atividade dos Soldera, agricultores desde 1975 e cooperados da Cotripal, é a produção de soja, milho e trigo em 3,8 mil hectares. “Mas o gado agrega valor na integração lavoura-pecuária”, diz Ademir. “Usamos o pasto no inverno e o resíduo da agricultura no verão.” A dobradinha levou os irmãos a iniciarem a criação de gado de seleção para vender touros, além do gado entregue para abate no frigorífico da Cotripal. Até 2016, além de 500 novilhos para abate, a intenção dos Soldera é vender 200 touros por ano. “Acho que a região tem vocação até para pensar em confinamento”, diz Ademir.
Para Salvador, como diretor do Programa Carne Angus Certificada, o confinamento na região de Panambi é perfeitamente viável. “A região é tomada por pequenas propriedades que podem se especializar”, diz. “Uma vai para a criação, outra para a engorda e uma terceira para a produção de alimento.” Segundo ele, o programa angus deve crescer com mais rapidez daqui para a frente. “Nos últimos cinco anos, conseguimos estabelecer um padrão de animais para o abate”, diz. “Nos próximos dez, chegaremos a um programa maduro e consistente, como é o americano.” No ano passado, o abate de animais da raça no País, destinados ao ABA, foi de 250 mil animais certificados pela empresa australiana Aus-Meat. No próximo ano, a previsão é abater pelo menos 300 mil animais. Em 2012, o programa rendeu aos produtores cerca de R$ 450 milhões, tomando como base o preço da arroba de boi pronto para o abate.