Em Sertãozinho, município da região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, onde a cana-de-açúcar reina absoluta entre as atividades principais do agronegócio, cerca de 130 touros têm uma vida de rei: alimentam-se na hora certa e de forma equilibrada, tomam banhos demorados em dias de calor e contam com pasto bem verdinho durante o ano todo. esses animais, todos provados como melhoradores de rebanhos bovinos, fazem parte da bateria de reprodutores da Central de inseminação CRV lagoa, subsidiária da cooperativa belgo-holandesa CRV. Com foco na seleção genética, a matriz europeia operativa conta com 30 mil fazendeiros associados.

Para seu ano fiscal 2012/2013, que termina neste mês, a CRV lagoa prevê que o seu faturamento deve ser de cerca de R$ 92 milhões em sêmen comercializado no País, 4% a mais que no ano passado. Na temporada 2011/2012 a empresa vendeu 4,5 milhões de doses, por r$ 88 milhões. globalmente, a receita da CRV foi de R$ 486 milhões no período. “Podemos ser ainda maiores no Brasil”, diz o holandês Vladimir Walk, presidente da CRV Lagoa. Para ele, apesar de o crescimento da empresa ter sido constante nos últimos quatro anos, os números da inseminação no Brasil ainda são tímidos. “É preciso mudar o modelo de negócio”, diz. No ano passado, segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), foram vendidos 12,3 milhões de doses de sêmen bovino no País, que geraram uma receita estimada de R$ 600 milhões. Esse volume de doses vendidas, suficiente para atender cerca de 6% dos 212 milhões de animais do rebanho nacional, mostra que a utilização do material genético ainda engatinha na comparação com outros países. “Na Holanda, 90% do gado é inseminado”, afirma Walk “Evidentemente, pelo tamanho da pecuária brasileira, não chegaremos a tanto, mas é possível avançar.”

Para Walk, atualmente, quando se fala em inseminação, o foco é a fêmea que vai receber o sêmen, mas o correto seria analisar os dados do rebanho como um todo. “A decisão não pode ser isolada”, diz. “É preciso vender inteligência e é nesse modelo que estamos apostando.” Nos últimos três anos, o executivo tem estudado como montar um modelo de gestão que leva em conta a alimentação, o rebanho inseminado e a mão de obra nas fazendas. “Com esse modelo pronto, vai ser possível falar em gestão integrada na inseminação.” A metodologia deve ficar pronta até o fim do ano.

No Brasil, a CRV Lagoa disputa o mercado dose a dose com gigantes globais, como a americana ABS Pecplan e a canadense Alta Genetics, ambas com sede em Uberaba (MG). No portfólio de clientes da CRV estão registrados 18 mil pecuaristas e 210 fazendas monitoradas por seus técnicos. São eles que acompanham, também, o trabalho das fazendas que mantêm animais nos programas chamados Gestor Leite, destinado ao gado desse segmento, e Paint, sigla para Programa de Avaliação e Identificação de Novos Touros, destinado ao gado de corte e que neste mês completa 20 anos. É desse grupo de reprodutores que hoje sai boa parte do sêmen vendido pela empresa.

O pecuarista Carlos Viacava, criador de nelore mocho em fazendas no interior de São Paulo, é um dos selecionadores de gado com animais alojados na CRV Lagoa. Do total de 18 touros em centrais, nove estão na empresa e os demais distribuídos entre a Alta Genetics e a Semex, de Blumenau (SC), cujo polo de coleta de sêmen é o interior paulista. Do touro Jaguarari de CV, por exemplo, já foram vendidas 160 mil doses. “Esse animal deve ultrapassar nossa marca de 160 mil doses com outro touro, o Diago”, diz Viacava. Diago, que já estava aposentado há quatro anos e que produziu sêmen por uma década, morreu há poucos meses. Para Viacava, a inseminação artificial tem tudo a ver com qualidade do rebanho e da carne que vai chegar ao prato do consumidor. “Esse é o apelo”, diz. “Quem quer avançar rapidamente no padrão de gado do rebanho não pode descartar a ferramenta.”

O ex-secretário-geral do Ministério da Fazenda no último governo do período militar, que é um ferrenho defensor do uso de touros para cobrir a vacada no campo, trabalha sua criação de gado com esse foco. No dia 28 de julho ele promoveu o seu mais importante leilão do ano na fazenda São José, em Paulínia, no qual vendeu 200 touros jovens e de campo pela média de R$ 6,6 mil, bem acima da média nacional. Alguns deles tinham mesmo potencial para serem touros de central. “Na inseminação em larga escala é preciso ter a fazenda bem preparada para a atividade”, diz Viacava.