15/12/2014 - 10:53
Um dos últimos moicanos de capital nacional do setor sucroalcooleiro, o Grupo Usina São João (USJ) é o campeão do Agronegócio Direto – Médias Empresas no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014. Com receitas estimadas em R$ 510 milhões, neste ano, a USJ, baseada em Araras, no interior paulista, é composta também pelas usinas de São Francisco e Cachoeira Dourada, em Goiás,
nas quais foi investido cerca de R$ 1 bilhão. No dia a dia, concorre com gigantes como a ETH, do grupo Odebrecht, e com a Raízen, joint venture da Cosan com a Shell. “A administração familiar,
se profissionalizada, pode ser muito eficiente”, diz Carolina Ometto, presidente da empresa e representante da quarta geração geração do clã, que vem se sucedendo há 70 anos à frente do negócio iniciado pelo agricultor José Ometto, filho de imigrantes italianos.
Focado em atender indústrias de alimentos e bebidas – como Unilever, Nestlé, Arcor e Coca- Cola –, o Grupo USJ explora a cana-de-açúcar da maneira mais diversificada possível. “O açúcar é uma commodity”, diz Carolina. “É difícil agregar valor à mercadoria.” Por isso, além do açúcar bruto ou refinado, cuja produção chega a 650 mil toneladas por ano, a empresa também comercializa etanol (280 milhões de litros) e fornece 350 mil MW de energia, boa parte dela vendida em leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Com capacidade para processar 11,3 milhões de toneladas
de cana, anualmente, a USJ cultiva sua matéria-prima numa área de cerca de 100 mil hectares. De acordo com Carolina, embora o setor de energia elétrica represente apenas 10% das vendas do grupo, ele atende a uma necessidade de diversificação de receitas, diante da queda das cotações internacionais do açúcar e da perda de competitividade do etanol no mercado brasileiro. “Estamos passando por um momento complicado no setor sucroalcooleiro no País”, diz Carolina.
Nos últimos dois anos, o setor perdeu 60 mil empregos. Só em São Paulo, 26 usinas fecharam suas portas desde 2010. O preço baixo do açúcar nas bolsas agrícolas internacionais desestimulou sua produção no País. Além disso, a competitividade do etanol no mercado tem diminuído sensivelmente por conta da política de preços para o setor de combustíveis, com a concessão de reajustes abaixo da inflação para os derivados de petróleo, o que acabou praticamente inviabilizando financeiramente o produto renovável. Para driblar a crise, Carolina aposta na adoção da tecnologia para tornar seu negócio o mais competitivo possível.
Segundo ela, em média, 70% dos custos das usinas do grupo estão relacionados à produção de açúcar. “Para manter as margens, precisamos enxugar nossas operações ao máximo.” Por isso, o
grupo mantém todas as áreas de plantio rastreadas com GPS – para evitar o pisoteio desnecessário das máquinas colhedoras nas linhas de cana. “Dessa maneira, os canaviais adquirem uma longevidade
20% maior”, diz.
No agronegócio não faltam exemplos de empresas que inovaram ao enxugar custos. A usina sucroalcooleira São Manoel, destaque em Gestão Corporativa do prêmio AS MELHORES DA
DINHEIRO RURAL 2014, promoveu uma série de políticas de bonificação para seus funcionários. “Os colaboradores que baterem suas metas podem aumentar seus salários em até 40%”, diz Carlos Dinucci, presidente da companhia paulista, que deve faturar R$ 430 milhões neste ano. Os empregados da Usina São Manoel são treinados a operar os equipamentos – como caminhões, tratores e colhedoras – da maneira mais competitiva possível, conduzindo as máquinas em velocidade adequada, o que resulta em menor consumo de combustível e no aumento da longevidade dos pneus. Esses indicadores são controlados por computadores de bordo instalados nos veículos.
Outra empresa que se destacou em 2014 pela política interna de otimização de processos foi a Duratex Florestal, que integra a Duratex, cujas receitas atingiram R$ 3,9 bilhões em 2013. Por essa
razão, foi destaque em Gestão Financeira no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014 em gestão financeira. “Há uma busca incansável no grupo para extinguir custos desnecessários”,
diz José Ricardo Ferraz, diretor da Duratex Florestal. A gestão financeira rígida, herdada do seu grupo controlador, o Itaúsa, inspirou a empresa a investir mais de R$ 15 milhões na mecanização
da silvicultura, área de negócios de mão de obra intensiva, para reduzir os custos operacionais. “Temos 13 projetos firmados com algumas das melhores universidades do País para criar máquinas customizadas para o cultivo de florestas”, diz Ferraz.