17/07/2013 - 17:35
Para dar suporte à gestão de propriedades rurais, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, o Cepea/USP, através do grupo Adeca (Administração e Economia Aplicadas ao Agronegócio), realiza desde 2003 um diagnóstico anual dos custos de produção de soja, milho, algodão e de pecuária de corte e leite. Os números levantados servem para orientar os produtores na gestão do negócio. No dia 6 de junho, em Piracicaba (SP), os pesquisadores do grupo Adeca apresentaram os dados relativos a 2012. De todos os setores, a pecuária leiteira é a mais sensível porque a gestão do negócio é feita em centavos de real, preço do litro de leite pago ao produtor pela indústria de lácteos. Para quem literalmente conta tostões, lembra o professor Sérgio De Zen, pesquisador do Cepea, o controle de custos é fundamental nessas propriedades. “Ele pode fazer a diferença entre o lucro e o prejuízo”, diz De Zen.
Em 2013 a expectativa é de que os produtores de leite coloquem no mercado 34 bilhões de litros, volume 2% superior ao de 2012. Até dezembro, também é esperada uma queda de 10% na importação de lácteos, em função dos preços mais altos praticados no mercado internacional. Desde o início do ano, a tonelada da matéria-prima passou de US$ 3,5 mil para US$ 5,1 mil. No fim do mês de maio e início de junho, essa conjunção de fatores fez com que o preço médio do litro de leite pago ao produtor, no País, chegasse a R$ 0,98, a maior cotação dos últimos cinco anos. “O preço do leite tende a permanecer firme nos próximos meses e o momento é bom para fazer caixa, desde que os gastos estejam na ponta do lápis”, diz Paulo Moraes Ozaki, analista de mercado do Cepea.
O Cepea já realizou 70 painéis para analisar a cadeia do leite no País e propor modelos de negócio. Para Ozaki, esses painéis têm mostrado que nem sempre o produtor ganhou mais em função do preço mais elevado do leite pago pelos laticínios, porque os custos apertaram muito a margem de lucro. “Grande parte dos produtores trabalha no vermelho e não sabe”, diz Ozaki. Ele dá como exemplo 2012, ano em que o custo de produção subiu 20%. Desse total, a alimentação do gado, baseada em grãos, respondeu por 40% dos gastos. Para Ozaki, a primeira providência é justamente o controle desses gastos.
Há no País 1,3 milhão de propriedades leiteiras. As planilhas de custos do Cepea também mostram que existe uma diferença acentuada entre aquelas mais tecnificadas, que criam gado especializado na produção de leite, e as demais. Tomando como exemplo duas propriedades típicas, uma em Castro, no Paraná – considerada uma ilha de excelência –, e outra em Uberlândia, em Minas Gerais, que serve de parâmetro de muitas propriedades em outros Estados, os pesquisadores do Cepea chegaram a diferenças gritantes de rentabilidade. Na média de um ano, a propriedade de Castro teve margem bruta de R$ 885 por hectare, enquanto a mineira obteve apenas R$ 189 por hectare. “Chama a atenção, também, a relação entre volume de leite produzido e o número de funcionários fixos”, diz Ozaki. Em Castro, a produção foi de 750 litros por homem/dia, enquanto em Uberlândia o volume foi de apenas 267.
Nos últimos dez anos, o consumo anual per capita de leite no Brasil passou de 135 litros para 176 litros. Trata-se de um bom desempenho do consumo, mas ainda abaixo dos 200 litros preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que representa ampliação do mercado interno para o setor. “A diferença de quase 30 litros significa oportunidade de crescimento”, diz Osaki.