Nesta quinta-feira, 2, o jornalismo brasileiro perdeu um de seus grandes ícones, a jornalista a apresentadora Glória Maria. Conforme comunicado da TV Globo, ela foi diagnosticada em 2019 com um câncer de pulmão, sofreu metástases no cérebro, que tiveram tratamento exitoso no início, mas que deixou de fazer efeito nos últimos dias.

“Ela teve uma recidiva, uma progressão da doença no cérebro. Isso infelizmente é uma coisa que pode acontecer em câncer de pulmão. A gente acaba controlando por um tempo e, depois, a gente perde o controle e a doença cresce novamente”, comenta o oncologista e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Luis Antonio Pires.

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Segundo Pires, o câncer de pulmão é bastante frequente no Brasil, com projeção de cerca de 30 mil novos casos neste ano. A taxa de falecimento também é “elevada”, afirma, com quase 28 mil óbitos registrados em 2020. “São números bastante assustadores”, destaca. A principal causa desse tumor é o tabagismo, de acordo com o médico.

A depender do momento e de quão avançado estiver o tumor, há uma série de tratamentos que podem ser feitos (cirurgia, quimioterapia e radioterapia, drogas alvos para atacar uma determinada mutação). O comunicado da Globo informa que a jornalista passou por imunoterapia, que promove um ativação do sistema imune do paciente.

“Ter células diferentes no corpo da gente todo mundo tem. E o organismo ele é capaz de detectar essas células diferentes e atacá-las e destruí-las. Quando a gente tem alguns tipos de tumores, como de pulmão, essas células crescem e o sistema imune não consegue reconhecer essas células como sendo estranhas, é como se essa tivesse um disfarce. Quando a gente fala de imunoterapia, foram remédios que foram criados para tirar o disfarce dessa célula do tumor e o próprio organismo da pessoa vai combater aquela célula doente”, explica Pires.

O câncer de pulmão não costuma ter muitos sintomas, conforme o oncologista, mas tosse, expectoração (catarro) com sangue e emagrecimento são sinais de alerta. Os sintomas, explicam os especialistas ouvidos pelo Estadão, tendem a aparecer quando a doença já está em estágio mais avançado.

“Às vezes, a pessoa nem tem sintoma do câncer de pulmão e abre o diagnóstico pela metástase cerebral”, afirma Antonio Aversa, neurocirurgião e chefe da seção neurocirurgia do Instituto Nacional de Câncer (Inca). “O paciente às vezes é fumante já tem sintomas crônicos, tipo tosse, e os sintomas respiratórios iniciais passam despercebidos.”

O que é metástase?

Metástases são chamadas também de tumores secundários e, de acordo com Feres Chaddad, neurocirurgião da Beneficência Portuguesa de São Paulo, são como “implantes” de um tumor que se originou em outro órgão. “Por exemplo, o tumor primário da Glória Maria estava localizado no pulmão e emitiu células que caíram na corrente sanguínea ou linfática e vão atingir um outro órgão, que se (o tumor primário) for no pulmão, pode atingir o fígado, cérebro e intestino.”

No caso de câncer de pulmão, metástases cerebrais são bastante comuns. Cerca de 30% dos pacientes com tumor originário no pulmão progridem para uma metástase cerebral, diz Pires. Embora seja comum, frisa Chaddad, não significa que seja fácil para o tumor criar o implante no cérebro, ele precisa vencer uma forte barreira, a hematoencefálica (espécie de filtro que não deixa que qualquer substância chegue ao sistema nervoso central).

Ultrapassar a barreira é um indicativo do agravamento da doença e de que curá-la vai ser mais difícil. “Quando ele se implanta no sistema nervoso, o prognóstico piora em mais de 50%”, diz Chaddad.

Isso não significa que não haja possibilidade de vencer o tumor. O tratamento de metástases cerebrais vão depender de uma série de fatores. Entre eles, do número, da localização e do tamanho das lesões. As opções terapêuticas microcirurgia, radiocirurgia (tratamento com radiação, que queima a lesão), radioterapia do cérebro inteiro (quando há muitas lesões) e tratamentos sistêmicos (pela boca e pela veia, como quimioterapia e radioterapia).

A causa da metástase é necessariamente o tumor primário. Logo, a prevenção está no diagnóstico precoce. Detectar a doença em um estágio inicial, em que não haja disseminação para outros órgãos. “A chance de controle é muito melhor”, diz Averso.