De longe, parece uma partida de polo. De perto, um jogo de basquete, mas, tecnicamente, é como o futsal. Aos poucos, o horseball, esporte popular na França, Espanha e Portugal, conquista os brasileiros e se aprimora por aqui. Na região de Boituva, interior de São Paulo, algumas hípicas investem na modalidade e atraem dissidentes de outros esportes equestres, ou ainda gente que nunca montou um cavalo, mas se apaixonou pelo radicalismo deste jogo. A região é um dos pólos nacionais do esporte, que também conta com núcleos no Distrito Federal e Rio Grande do Sul.

“Você vê grupos de amigos se reunindo para jogar peladas de futebol. Aqui, nos reunimos para jogar horseball”, conta Murillo Ramos, jogador da Seleção Brasileira de Horseball, e dissidente do laço em bezerro. “Este é o nosso futebol, com gol e tudo”, brinca. Entusiasta do esporte que conheceu há seis anos, Ramos encabeça o time Atlético Horseball Clube ao lado de outro jogador da seleção brasileira, Isaac Miranda, empresário tatuiense que construiu uma hípica na pequena cidade de Quadra, a dois quilômetros de Tatuí, para treinar com os amigos e fomentar o esporte no Brasil. “O horseball reúne os princípios do esporte, a conscientização e o senso de responsabilidade com os animais, e os amigos em torno de um jogo saudável, que, apesar de ter origens bem incomuns, não tem nada de perigoso”, diz Miranda.

Quando usa o termo “incomum”, o jogador está sendo modesto, visto que o atual horseball, criado pelos franceses nos anos 70, é uma herança de dois cruéis jogos praticados antigamente no Afeganistão e na Argentina. Os afegãos jogavam o buzkashi, cuja “bola” era uma carcaça de carneiro. Los hermanos pegaram mais leve, e usavam um pato para jogar para lá e para cá até acertar o gol. Para a sorte dos jogadores de hoje, muita coisa mudou no esporte. “O horseball é um esporte envolvente, que mescla futsal e basquete.

 

 

No entanto, mexe também com a emoção de quem está assistindo”, diz Fábio Cortese, gerente esportivo e narrador das partidas do time. Pelas regras atuais, quatro cavaleiros de cada time, e dois reservas, se revezam para levar a bola – uma bola de futebol oficial numero quatro envolvida com seis alças de couro – para um dos dois cestos localizados nos fundos do campo a uma altura de 2,30 metros do chão. “É um cesto semelhante ao de basquete, mas quando a bola entra comemoramos gol”, explica Ramos. A bola deve, obrigatoriamente passar por três jogadores, que podem detê-la por dez segundos cada um. “As infrações são punidas com três níveis de faltas: P1 é pênalti, P2 é arremesso a dez metros e P3 é direito de bola”, ensina Cortese. Um dos momentos emocionantes, porém, é a ramassagem, que é quando a bola cai no chão e o jogador se lança em direção a ela. “O cavaleiro não cai porque os estribos estão presos pela cilha, que é uma correia de couro que permite o movimento. Isso dá uma adrenalina contagiante.” No horseball são utilizados cavalos das raças purosangue inglês, brasileiro de hipismo e quarto-de-milha. “Há muitos animais dissidentes do polo”, diz. “A única regra é que o animal tenha a idade mínima de quatro anos para ser treinado.” Segundo os jogadores, a cada partida disputada, essa dose de ousadia aumenta. “É instigante.”

A dedicação ao esporte levou estes três meninos ao Campeonato Mundial, disputado em Ponte de Lima, em Portugal, em 2008. Ramos e Miranda defenderam a seleção nacional conquistando o sexto lugar e Cortese, que foi só para torcer pelos amigos, acabou mostrando aos gringos o jeito brasileiro de impor emoções. “Perguntaram o que eu fazia e falei que eu narrava. Então, me deram o microfone e comecei a narrar. Quando eu gritei gol com toda a emoção, a plateia inteira estava olhando pra mim”, lembra Cortese. A equipe treina pesado agora para disputar o Campeonato Brasileiro de Horseball, no final de setembro, em Boituva, e se prepara para o Panamericano de 2011, que será disputado no Brasil. “Mas com certeza iremos ao mundial em 2012”, garante Ramos, tão certeiro quanto a bola e o cavalo que domina.