05/09/2020 - 13:54
Isolada em um trecho da Praia da Enseada, no Guarujá, a publicitária Andrea Avedissiam, de 45 anos, demarcou um perímetro invisível ao redor da cadeira de praia onde estava sentada para tomar sol enquanto lia O Morro dos Ventos Uivantes. Longe dos demais banhistas, que também permaneciam na areia com guarda-sóis mesmo diante da proibição, ela disse se sentir segura. A poucos metros dali, na praça Horácio Lafer, 30 cavalos da Polícia Militar de São Paulo se preparavam para começar a ação de apoio à fiscalização local.
Essas três cenas — de mais aglomeração, pouco distanciamento e forte vigilância da força de segurança — predominaram na faixa de areia na manhã deste sábado, 5, primeiro dia do feriado prolongado de 7 de setembro. Tanto quem foi ao local pela primeira vez quanto quem já é veterano ficou impressionado com o amplo movimento de pessoas, que começou a se intensificar depois do meio do ano, segundo conta Priscila Freire, de 41 anos.
“Até junho, julho estava bem abandonado. Em agosto aumentou bastante e no fim de semana passado piorou. O policiamento é bem eficaz, quem burla (as regras), os policiais no triciclo espantam, mas agora tem muita gente aqui”, diz ela.
Priscila, que tem revezado a morada entre a capital paulista e a casa que possui no município litorâneo, foi atraída com a família pelos cavalos do Regimento de Cavalaria 9 de Julho da Polícia Militar do Estado, que tinham chegado por volta das 10h à cidade. “Nunca tinha visto, é a primeira vez.”
Os animais serão utilizados pelos policiais militares para atuar no apoio à fiscalização local para evitar aglomeração nas praias. A mobilização faz parte do reforço anunciado esta semana pelo governador de São Paulo, João Doria, aos municípios litorâneos e de estâncias turísticas. A previsão é disponibilizar 20 mil agentes a essas localidades ao longo dos dias de descanso.
“A gente vai ficar em apoio à Guarda Civil Metropolitana caso tenha algum problema com aglomeração de pessoas. Mas, via de regra, somos os últimos a ser acionados”, explicou o tenente Porcina. A operação será realizada neste sábado e até terça-feira, 8, das 10h às 16h. O plano é que os policiais fiquem em pontos estratégicos da orla, ajudando na conscientização contra o novo coronavírus.
Mas enquanto os cavalos não saíam para iniciar o expediente, o que ocorreu às 11h, pequenos grupos de duas a cinco pessoas se aproximavam dos animais com curiosidade. Crianças, principalmente, se encantavam ao chegar perto. O pequeno Mateus, de 5 anos, andava de bicicleta na companhia do pai, Carlos Alberto de Almeida Soares, de 62 anos, quando parou para admirar os equinos. “Ele é fascinado pela Polícia Militar”, conta o pai.
O advogado, que mora em Paulínia e vai ao Guarujá com frequência, também relata que houve aumento no número de pessoas na praia nas últimas semanas. “Mas estou admirado pelo policiamento, está bem guarnecido.” Logo ele ia para Ubatuba, onde afirma que a movimentação é menor.
Regras são pouco respeitadas
Os esforços para alertar turistas e moradores acerca das regras nas praias do Guarujá contam com distribuição de panfletos aos motoristas que chegam à cidade e se dirigem às faixas de areia e mar. O material, distribuído pela Prefeitura do município, avisa que são permitidas atividades esportivas sem contato físico, a exemplo de caminhadas, corridas, futevôlei, surfe e caiaque. Para essas atividades, o uso de máscara é obrigatório. Já os esportes coletivos estão proibidos, bem como a permanência de cadeiras de praia, guarda-sóis, tendas, esteiras, brinquedos infantis, coolers e similares. O banho de mar também é vetado, mas não está descrito no panfleto.
“Não pode ficar parado na areia, com cadeira, sentado. Pode circular pela praia, fazer caminhada”, disse um guarda municipal. No entanto, a reportagem do Estadão observou poucas recomendações sendo seguidas. Grupos pequenos e grandes tomavam banho de mar ou se juntavam em cima de toalhas para tomar sol. Guarda-sóis estavam abertos, sob os quais mais pessoas se reuniam equipadas com caixas de isopor ou coolers para preservar uma bebida gelada. Difícil era ver alguém de máscara. Item essencial para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, mas, aparentemente, não na praia.
“Eu ando de máscara quando estou na calçada, mas aqui para tomar sol fico sem”, disse Andrea, que mora na capital paulista e aproveitou a facilidade do home office para descer a serra na quinta-feira à noite e evitar trânsito. Ela vai ao Guarujá com frequência e estava ciente das regras para circular na praia da Enseada. “Agora está bem mais cheio. Mesmo quando duas ou mais pessoas estão juntas em cadeiras, os guardas passam, mas não falam nada, só se tiver com guarda-sol”, relata.
Quem compartilha dessa observação é o guarda de trânsito Rodrigo Vitor Martins, de 34 anos, que foi à praia do Guarujá pela primeira vez. Ele conta que os guarda-sóis são fechados quando agentes de segurança passam em triciclos, mas logo são reabertos após eles se perderem de vista. Sobre a experiência inédita em meio à pandemia, ele diz que “é chato”. “É um pouco chato porque tem de ficar todo mundo longe, não tem muitos quiosques, toda hora vem guarda municipal”, diz.
Outra caloura na praia da Enseada é Helen Cristina, de 21 anos, que estava acompanhada também do marido e dos dois filhos. Sob a sombra de um coqueiro, ela cuidava do caçula, Gael, de 10 meses, também estreante em ambiente praiano. Ver as pequenas aglomeração a preocupou. “Tem de tomar cuidado, tem muita gente aglomerada, sem máscara. As pessoas não estão respeitando”, disse ela, que mora em Itu.
O Estadão procurou a Prefeitura do Guarujá para falar sobre as ações de fiscalização, mas ainda não conseguiu retorno.