15/07/2020 - 22:19
Um dia depois de um grupo de 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central (BC) divulgar uma carta na qual cobraram maior compromisso do governo brasileiro contra o desmatamento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que há um “exagero enorme” nas críticas à política ambiental. Para ele, o Brasil é vítima de uma politização do tema a nível internacional.
Em entrevista concedida na noite desta quarta-feira à rádio Jovem Pan, Guedes reconheceu que há no mundo uma maior consciência ecológica, mas argumentou que o desmatamento não começou a ser feito no último um ano e meio (período coincidente com a gestão de Jair Bolsonaro) e fez uma comparação com a política de educação.
“Uma coisa é o que se diz e outra é o que se faz. Fala-se muito que o Brasil tem muita preocupação com educação, mas o Brasil é um dos últimos no Pisa. A preocupação dos sociais-democratas com a educação e o ambiente é muito bonita, mas o Brasil não queima floresta hoje, é algo que ocorre há décadas no Brasil”, disse.
O ministro afirmou também que o País é o que tem a agricultura mais sustentável e a maior área verde do planeta. “Quando vou lá fora, eu digo: vocês dizem que nós maltratamos nossos índios, mas os índios foram exterminados em alguns países. Vocês dizem que tratamos mal nossas florestas, mas temos a matriz energética mais limpa do mundo”, defendeu.
Guedes, contudo, afirmou que não basta falar, é preciso mostrar. “O mundo quer ser verde e nós, como seres humanos, percebemos que há essa poluição ambiental, ameaça de desastres ambientais, então temos que, de alguma forma, mostrar isso”, disse.
Na avaliação dele, há “certo fundamento” nas críticas feitas à política ambiental do Brasil, mas vê também um “exagero enorme”, em contexto no qual o País estaria sendo vítima de uma politização do tema. “Há interesses protecionistas. Há países que há muitos anos temem nossa competição no setor agrícola e usam essa crítica para termos ganho de comércio”, afirmou.
Guedes ressaltou que o Brasil tem uma das legislações mais rígidas na área ambiental e que o País tem de ser contra tudo que é ilegal. “Temos de combater esses excessos, para termos condição de melhorar nossa imagem lá fora”, disse.
Ao falar do risco de o Brasil perder investimentos em razão de questões ambientais, ele lembrou que a pressão internacional em relação ao tema é feita principalmente por países avançados, da Europa.
“Mas há países que não pensam nisso. Para cada dólar que exportamos para Europa, exportamos três ou quatro vezes mais para China, mas a China não pergunta sobre isso. Nós vamos preservar o meio ambiente porque é interesse nosso”, disse. “E ninguém pergunta sobre o sistema político da China ou aperta a China por causa da sua política ambiental, que não foi tão preservadora como a do Brasil”, comparou.
Para Guedes, há “muita política” nessa discussão e o Brasil não pode ser “ingênuo”. “Nós temos interesse em preservar nossas riquezas, e temos muitos recursos naturais. Temos de usar nossos recursos de forma inteligente. Temos a matriz energética mais limpa do mundo, então não há sentido, para o grau de apedrejamento que recebemos hoje”, disse.