Ao lado da praia da Torre, na linha de trem que liga Lisboa a Cascais, está uma das melhores escolas de negócios da Europa: a Nova School of Business and Economics. Assim mesmo, em inglês – nas cantinas, bibliotecas e corredores da Nova SBE, como é conhecida, ouve-se pouco a língua portuguesa. Lá, 40% dos professores e 68% dos alunos são estrangeiros.

“Queríamos criar uma escola que, mais do que portuguesa, fosse internacional, capaz de colocar os alunos nas melhores empresas da Europa e do mundo”, diz o reitor da Nova SBE, Daniel Traça.

A Nova SBE é a 11.ª escola do mundo em Finanças e a 15.ª em Administração no ranking do jornal britânico Financial Times – que leva em conta principalmente a empregabilidade.

Tal façanha se consolidou nos oito anos do mandato de Traça na reitoria, encerrado no fim de 2022. Ao jornal O Estado de S. Paulo, ele fala do desafio de criar uma escola de padrão internacional e das oportunidades para brasileiros. “Faltam jovens na Europa, especialmente nas áreas de tecnologia, economia criativa e empreendedorismo”, diz.

A Nova está bem colocada em rankings internacionais. Como conseguem?

Tínhamos vontade de fazer uma escola que, sendo em Portugal, não fosse uma escola portuguesa. Tínhamos consciência de que era preciso atrair alunos e professores internacionais, e alavancando a força de Portugal – porque temos lifestyle, qualidade de vida -, colocasse os alunos nas melhores empresas da Europa. Esta foi a aposta.

Há várias salas com nomes de empresas, onde funcionam núcleos de inovação patrocinados por elas. Como isso funciona?

Nossos mestrados em Portugal eram para alunos que acabaram a graduação. Eram bem preparados, mas não conheciam nada do mercado. Queríamos levá-los para o mercado. Isso implicava ter muita proximidade com as empresas, realizando projetos conjuntos, de forma que os alunos não apenas aprendessem a teoria, mas aprendessem a fazer. Implicava também muitas competências de “soft skill” – trabalhos de grupo, módulos de liderança, para ajudar o alunos a descobrir o que queria. Nosso sonho era que nossos alunos chegassem às empresas já sabendo trabalhar.

Isso inclui o incentivo ao empreendedorismo?

Sim, sabíamos que um tema importante para essa geração é o poder para fazer. Eles não queriam ser clientes, queriam ser atores do seu próprio destino. Dizíamos muitas vezes a nossos alunos: “O que faltar na escola, façam acontecer”. Essa dinâmica de muito empreendedorismo com propósito, com ligação ao mercado de trabalho e às empresas, fez com que os alunos viessem, achassem que a Nova era diferente, falassem aos amigos, portugueses e estrangeiros. Há 14 anos, quando cheguei, eram 107 alunos no mestrado. Hoje são 1,7 mil. Há 14 anos, quatro ou cinco eram estrangeiros. Hoje há 1,7 mil alunos e 68% são estrangeiros. Há oito anos, 10% dos professores eram estrangeiros, hoje são 40%.

Quais as oportunidades para um aluno brasileiro que queira estudar na Nova?

As oportunidades em Portugal são enormes, sobretudo para quem está no Brasil. Há muitas oportunidades em Portugal, na Espanha, na França. O problema maior da Europa é que há poucos jovens. As gerações estão envelhecidas, e as empresas precisam desses jovens para produzir. Portanto, há espaço grande para se vir do Brasil para a Europa.

Quais são as áreas com mais oportunidades?

Em primeiro lugar, tudo o que tem a ver com tecnologias, criatividades. Empreender, criação de startups, de novas ideias de negócio. Pode-se empreender muito facilmente na Europa. Há toda a área ligada à inovação e as ligadas à sustentabilidade. Há enorme mercado para ajudar as empresas a fazer a transição energética.

A Nova é pública. No Brasil, universidades públicas são gratuitas. Em Portugal, as públicas cobram. Como funciona esse modelo, e quanto se cobra?

Na universidade pública em Portugal, do ponto de vista da graduação, alunos portugueses e europeus têm um preço muito baixo. Um aluno que venha do Brasil paga na graduação em torno de € 6 mil a € 8 mil por ano (de R$ 33 mil a R$ 44 mil aproximadamente). A graduação dura três anos. Isso vale para a Nova SBE, para outros departamentos da Nova e para outras universidades públicas em Portugal. Do ponto de vista dos mestrados, que equivalem um pouco ao 4.º ou ao 5.º ano da graduação brasileira, há mais liberdade em Portugal, e as próprias universidades públicas cobram o preço que quiserem. Na Nova, temos preços mais baixos que nossa concorrência na França ou Espanha, mas que são mais altos que muitos outros programas de mestrado em Portugal. Cobramos entre € 12 mil e € 14 mil (de R$ 66 mil a R$ 77 mil aproximadamente) pelo preço do programa, que dura um ano e meio. Mas temos também muitos modelos que permitem aos alunos financiarem esse tipo de custos quando precisam. Damos de mais de € 1,5 milhão por ano em bolsas, e às vezes sistemas de “income agreement”, em que os alunos, no fundo, recebem apoios e depois pagam de volta, mas de acordo com seu rendimento nos anos a seguir.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.