A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, fez um apelo para o peso da dívida de países emergentes e de baixa renda e quanto ao risco de uma onda de reestruturações. Segundo ela, cerca de 15% dos países de baixa renda já estão em situação de “sobreendividamento” e outros 45% enfrentam altas vulnerabilidades por conta do seu atual nível de endividamento. Georgieva alertou ainda para o fato de 25% das economias emergentes estarem em alto risco e enfrentando spreads de empréstimos semelhantes a riscos de default, ou seja, de calote.

“Isso levantou preocupações sobre uma onda potencial de pedidos de reestruturação da dívida – e como lidar com eles em um momento em que os casos de reestruturação atuais estão enfrentando atrasos caros, sendo a Zâmbia o exemplo mais recente”, disse a diretora-gerente do FMI, em evento no Meridian House, em Washington DC, nesta quinta-feira.

Custos da fragmentação

Outro alerta de Georgieva foi quanto aos impactos da fragmentação do comércio mundial. De acordo com ela, no longo prazo, isso pode custar 7% do Produto Interno Bruto (PIB) global, o equivalente à soma das economias do Japão e da Alemanha. Se adicionados os riscos de desacoplamento tecnológico, como o que tem ocorrido entre os Estados Unidos e a China neste segmento, alguns países poderão sofrer perdas de até 12% do PIB, disse.

“E a fragmentação dos fluxos de capital, incluindo o investimento estrangeiro direto, seria outro golpe nas perspectivas de crescimento global”, ressaltou Georgieva. De acordo com ela, é difícil quantificar as perdas possíveis nas variadas frentes, mas está claro que todas elas seguem na direção errada.

A diretora-gerente do FMI sugeriu aos países protegerem sua segurança econômica e nacional, mas mantendo o comércio mundial e o pragmatismo quanto ao fortalecimento das cadeias de abastecimento. “A diversificação das cadeias de suprimentos pode reduzir pela metade as perdas econômicas potenciais decorrentes de interrupções no fornecimento”, afirmou ela, citando um estudo do Fundo.

Ela mencionou ainda a importância de uma “mudança ecológica” no mundo. “Estima-se que US$ 1 trilhão por ano seja necessário apenas para energia renovável. Isso pagará dividendos em termos de crescimento e empregos”, destacou.

A diretora-gerente do FMI participou nesta quinta de evento sobre perspectivas para a economia global e prioridades dos formuladores de políticas no cenário atual. O debate antecede as reuniões de Primavera do FMI de 2023, que acontecem na próxima semana, entre os dias 10 e 16 de abril.