15/12/2016 - 15:19
A s irmãs Louise Rugolo, de 20 anos, e Caroline, 24 anos, montadas em seus cavalos quarto de milha na foto acima, ganharam em 2007, aos 11 anos e 15 anos de idade, respectivamente, um presente jamais imaginado para a maior parte dos jovens: um haras. O local para treinar veio quatro anos depois de as duas começarem a treinar esportes equestres. “Comprei o haras para ficar perto das minhas filhas”, diz Sedirley Rugolo, proprietário da Degradê Confecções, empresa têxtil de Porto Feliz, que também está na foto, ao lado da esposa Rose Mary. A aposta do empresário deu certo. Caroline se tornou campeã na prova de três tambores, modalidade que exige destreza e rapidez do cavalo e da amazona, para contornarem três obstáculos dispostos em uma pista de areia, no menor tempo possível. Em 2013, ela foi a líder do País no ranking da Associação Nacional de Três Tambores (ANTT). Caroline também se tornou dona da grife de roupas estilo country Cutter Jeans, uma homenagem ao cavalo com o qual foi campeã, o único da raça apaloosa criado no haras. Louise compete na categoria amador e vem se destacando nos campeonatos.
Desde que foi comprado, o haras Raphaela se transformou nas mãos da família. Sob a administração da mãe, a área de 85 hectares entre os municípios de Tietê e Porto Feliz (SP), se tornou mais do que um centro de treinamento para a família. No local foi construído um complexo que reúne baias, pista de provas, salão, restaurante, lanchonete e cafeteria, pronto para receber um público que passa de 15 mil pessoas por ano, nos eventos organizados ou monitorados por Rose Mary. “Eu não conhecia nada de cavalos ou esperava que as coisas tomassem essa proporção” diz Rugolo. “Minhas filhas se apaixonaram pelo esporte e nos levaram juntos. A cada necessidade das meninas, fazíamos ajustes para melhorar as condições de treino.” O haras hoje, mais do que um complexo com ares de turismo rural, é uma referência para a realização de provas equestres no País. Nele, são realizados anualmente cerca 20 eventos nas pistas de provas. Outros 15 ocorrem no salão multiuso, como leilões de animais, por exemplo. Incluindo eventos e venda de animais, a propriedade movimenta R$ 3 milhões anuais, em média.
Para chegar à atual estrutura foram investidos R$ 20 milhões na propriedade, incluindo a aquisição das terras e melhorias. Além de um centro de provas, a família também criou um núcleo de melhoramento de genético de cavalos quarto de milha. Para as provas equestres foram construídas 350 baias, pista coberta, estacionamento para os trailers de competidores e lavatório para os animais. A maior parte dos 20 eventos realizados no espaço conta com a chancela da Associação Brasileira de Quarto de Milha (ABQM), como Super Semana do Tambor, promovida pela National Barrel Horse Association. “O haras tem uma estrutura comparável ao que se encontra nos Estados Unidos, país que é referência para as provas de tambor”, afirma Fábio Pinto da Costa, presidente da ABQM. Entre as provas patrocinadas pelo haras está o Grand Prix, realizado há oito anos, sempre no mês de março. A competição reúne mais de dez mil pessoas por edição. “Nossa intenção era apenas reunir praticantes da modalidade”, diz Rugolo. “Hoje vem gente até de fora do Brasil para participar da prova”, afirma.
Não muito distante da pista de provas, a área destinada ao melhoramento genético dos cavalos é um capítulo a parte. Enquanto no centro de eventos as linhas são modernas, as construções desse setor têm inspiração espanhola, com paredes coloridas e fontes nos pátios. São 55 baias, laboratório de inseminação, andador elétrico coberto para os animais, além de moradia para uma parte da equipe de 20 funcionários, responsáveis pelo dia a dia da propriedade. O núcleo inclui pistas para os 250 cavalos quarto de milha da família Rugolo, dos quais 50 estão em treinamento. Esses animais são vendidos em três leilões por ano, sendo o principal em março, durante o Grand Prix. Neste ano, por exemplo, o 5º leilão Show de Estrelas vendeu 42 animais por R$ 3 milhões. “Os criadores da raça não pararam de investir, mesmo com a crise”, afirma Rugolo. “Além de ser um investimento, esses compradores são guiados pela paixão pelo cavalo.”
De acordo com a ABQM, os leilões da raça devem movimentar cerca de R$ 1 bilhão em 2016, mesmo volume de negócios realizados em 2015. “O haras Raphaela é um expoente no quarto de milha”, diz Costa. “Eles se tornaram criadores muito conhecidos e especializados em linhagens de tambor.” Mas, para o veterinário Filipe Fedozzi, que administra a propriedade junto com Rose Mary desde o início, ainda há um trabalho árduo pela frente. “Considero que ainda somos muito novos na criação”, diz Fedozzi. “E por isso estamos acelerando esse processo com mais investimentos.” No ano passado, Rugolo, que supervisiona da área de genética, comprou a fêmea Chayenne Fame I AM por R$ 980 mil. Ela nasceu no Haras Imperial, de Rodrigo Gontijo, e venceu diversas etapas de campeonatos estaduais em 2015. Rugolo, que esperava apenas investir em um local para o treino das filhas, viu a vida da família toda mudar ao criar o haras Raphaela. “Já não imagino a vida longe dos cavalos”, afirma o empresário. “Espero que o haras continue prosperando.”