22/05/2014 - 16:03
Após herdar de seus avós 19 hectares de terra na Zona da Mata mineira, há 16 anos, Marcélio Teixeira Faciroli simplesmente decidiu trocar a profissão de caminhoneiro pela de criador de cabras leiteiras. Sem ter noção da peleja que encontraria pela frente, Faciroli preparou o terreno, alojou as suas primeiras 30 matrizes da raça suíça saanen, avaliadas em no mínimo R$ 60 mil, e encarou a empreitada. O resultado inicial, pelo menos no primeiro ano, quando as ordenhas diárias que rendiam 60 litros de leite ainda não tinham destino certo, foi desastroso. Isso porque faltavam ainda conhecimento, escalana produção e uma demanda estável pelo produto. Embora incipiente, segundo Faciroli, havia à época um consumo de leite de cabra em pó, que chamou a sua atenção para o negócio. “Mas a indústria não absorvia toda a produção e a burocracia travava as vendas”, diz o criador de cabras. “Não tínhamos embalagens adequadas e a clientela era muito específica.” Ao contrário do que ocorre hoje, em que a demanda por produtos mais nutritivos está em alta, abrindo caminho para o leite de cabra, por exemplo. Na década de 1990, seu consumo praticamente se restringia a crianças com alergia ao leite de vaca. Mas foi seguindo a premissa de que a persistência pode tornar o que parece impossível em uma possibilidade que o criador de primeira viagem seguiu em frente e consolidou-se na atividade. Faciroli batizou sua pequena propriedade, localizada no município mineiro de Coronel Pacheco, de Capril Triqueda, procurou a Associação dos Criadores de Cabras Leiteiras da Zona da Mata (Caprima) e investiu em conhecimento. “Comecei do zero, dando muita cabeçada”, diz Faciroli. “Mas valeu a pena.” Atualmente o criador possui, no mesmo sítio, 200 matrizes e capta diariamente 260 litros de leite de cabra. Com destino certo, diga-se.
Isso porque, logo no segundo ano como criador, Faciroli conheceu Paulo Roberto Celles Cordeiro, sócio e diretor técnico do laticínio Celles Cordeiro Alimentos (CCA), de Nova Friburgo (RJ). Desde 1999, toda a produção do Capril Triqueda é entregue ao CCA, que comercializa leite de cabra UHT e produtos derivados, como queijos com a marca Caprilat, líder de mercado. “Sozinho, o caminho é árduo”, diz Faciroli. “Foi a partir daí que o meu negócio começou a fluir.”
Segundo Cordeiro, além do Capril Triqueda, outros nove produtores forneciam leite de cabra ao laticínio, no ano. Atualmente, o CCA conta com 116 produtores associados, responsáveis pelo fornecimento de 1,8 milhão de litros de leite de cabra em 2013. “Para este ano, devemos crescer a captação entre 10% e 15%.” Metade do recebido, de acordo com Cordeiro, vai para a produção de leite em pó, 40% para o UHT e o restante para a produção de queijos. “Nosso volume de comercialização é proporcional à captação”, diz Cordeiro. Os produtos Caprilat, por exemplo, já conquistaram espaço nas gôndolas das grandes redes varejistas, como o Pão de Açúcar e Extra. Segundo Pedro Paulo Vasconcellos Leite, presidente-executivo de caprinos da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado de Minas Gerais (Caprileite/Accomig), de Belo Horizonte, o consumo de leite de cabra e de produtos derivados cresceu pelo menos 30% nos últimos cinco anos. “Ainda não possuímos dados consolidados dessa cadeia”, diz Leite. “Mas estamos fazendo um censo sobre esse cenário no País.” Ainda de acordo com Leite, somadas, as três bacias leiteiras localizadas no sul de Minas, na Zona da Mata e no Triângulo Mineiro produzem dez mil litros de leite por dia.
Mas, como para a Caprilat não basta apenas ter volume, é preciso leite de qualidade, o laticínio oferece assistência técnica aos criadores.Segundo Faciroli, esse quesito do Triqueda foi possível também graças ao apoio do CCA, além da parceria com a Caprima e com a Embrapa, de Juiz de Fora. “Isso só tem aumentado a qualidade e a produtividade em meu capril”, diz o criador, que estima uma ordenha diária de 400 litros de leite de cabra até o fim deste ano. “Para 2015, a meta é captar diariamente 500 litros de leite de cabra.” Para atingir essa produção, Faciroli mantém seus animais em regime de confinamento, onde são consumidas 240 toneladas de silagem por ano. Do fim da década de 1990 para cá, o Triqueda também integrou o projeto de transferência de embriões da Embrapa e o teste de progênie da Caprileite. “A atividade é rentável”, diz Marcus Vinicius da Fonseca, zootecnista, primo de Faciroli e parceiro na criação de cabras. O Capril Triqueda recebe, em média, R$ 1,75 pelo litro de leite, mas pode chegar a R$ 1,82, de acordo com a qualidade do produto. “Ainda assim, a sazonalidade da produção de leite tem sido o maior desafio da industrialização”, diz Fonseca. “A produção de leite de cabra ocorre dentro de pequenas propriedades rurais, que empregam mão de obra familiar. E, o consumo, muitas vezes, é para a subsistência.”