Uma nova geração de herdeiros está voltando para o campo e mudando o jeito de produzir café nas fazendas da família e do país.

Com o uso de tecnologia e processos mais sustentáveis de produção, herdeiros de fazendeiros estão abandonando carreiras consolidadas nos centros urbanos, para gerenciar os negócios da família e lucrar com a produção de café.

A reportagem da Dinheiro Rural visitou duas fazendas produtoras de café conilon, no Espírito Santo, em que jovens produtores estão ganhando protagonismo com novas técnicas de cultivo e práticas de agricultura regenerativa.

Casal investe em micro torrefação e agrofloresta

O casal Dieimes e Erika conta que sonhava em ter uma vida profissional longe do campo. Ele, engenheiro agrônomo, chegou até o mestrado e se via como pesquisador acadêmico ou na iniciativa privada. Ela, formada em geografia, sempre escutou em casa que a vida na roça “não dava futuro”. 

“Eu precisei fazer mestrado pra saber que o meu destino era ficar aqui na fazenda. Vi que o caminho pra academia era muito complicado e não me via na iniciativa privada, então quando viemos passar alguns dias aqui durante a pandemia, em 2020, nós percebemos que agregar valor ao café da fazenda poderia ser um bom caminho”, afirma Dieimes, que é da terceira geração de propritários.

Desde então os dois investiram na agricultura regenerativa e nos cafés especiais. Com 10 hectares de café plantados, a fazenda Sítio Bom Jardim possui 3 mil metros quadrados de agrofloresta, onde o café é plantado com árvores nativas da mata atlântica. Eles também usam capim para a proteção do solo e das raízes das plantas, prática que não é comum no café.  

A produção fez com que a família tivesse uma relação melhor e experimentasse pela primeira vez o café feito na propriedade. Hoje a fazenda possui uma pequena torrefação independente, vende o próprio café para o consumidor final e alguns lotes chegaram a bater mais de 80 pontos, atingindo a nota de café especial, que é vendido mais caro do que o commodity.   

“A produção de café especial é desafiadora, mas também é uma oportunidade de agregar valor ao nosso produto, com um forte compromisso com a segurança alimentar e o bem-estar ambiental”, apontou Erika. 

Economista troca carreira pela roça

Kaézia Biachini (no centro) e sua família. Foto: Bruno Pavan

A economista Kaézia Biachini, de 27 anos, iniciou uma carreira em instituições financeiras e diz que tudo a distanciava do campo, até que ela atendeu a um chamado de seu pai, Cássio.

“No começo a transição foi um pouco difícil, porque o mercado financeiro é muito conectado. Por isso, a primeira mudança que eu fiz foi no sentido de conectar todos os processos, desde a irrigação junto com a adubação até a gestão da fazenda. Tudo isso ficou conectado”, conta

Além de modernizar os processos e a gestão, a filha economista também ajudou a encontrar novas fontes de renda para a fazenda Santa Catarina, como a venda de mudas de café para produtores da região. Hoje a fazenda conta com um espaço com mais de 1 milhão de mudas, todas já comercializadas. 

Fazenda possui mais de 1 milhão de mudas Foto: Bruno Pavan

Tanto Kaézia quanto Erika Bermouli fazem parte do programa da Nestlé “Fazedores de Café”, que auxilia jvens produtores a se qualificar para gerenciar as fazendas com processos mais tecnológicos e sustentáveis. O programa programa busca abordar novas técnicas de cultivo, além de análise de grãos e empreendedorismo rural, e já qualificou mais de 200 jovens no Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. 

A fuga da geração mais nova do campo ainda é um desafio no campo. Segundo o estudo Governança e gestão do patrimônio das famílias do agronegócio, da Fundação Dom Cabral e da JValério, mais de 80% das empresas ativas no campo ainda são lideradas por seus fundadores. Entre aquelas que passaram por transição, apenas 41% chegaram à segunda geração, 16% alcançaram a terceira e menos de 1% permanecem sob comando da quarta geração ou além. A sucessão familiar foi apontada por 26% dos entrevistados como um dos principais desafios enfrentados pelas famílias do agro nacional. 

*A reportagem viajou ao Espírito Santo a convite da Nestlé