A Brasil Foods troca ativos com O Marfrig e estabelece

na Argentina sua maior operação física fora do Brasil, que deve faturar US $ 500 milhões em 2012

! Hola! ¿Qué Tal? é a saudação mais corriqueira na Argentina assim que se encontra alguém pelo caminho. O “olá, como está?” de los hermanos, daqui para a frente, deve ser também uma frase constante no repertório em portunhol do executivo José Antônio do Prado Fay, presidente da Brasil Foods, que, na primeira quinzena de dezembro, circulava sorridente durante um almoço com um grupo de jornalistas reunidos na capital paulista. Explica-se o motivo para o bom humor e a desenvoltura de Fay, há três anos no comando de uma das maiores processadoras brasileiras de alimentos, que faturou R$ 23 bilhões em 2010. Uma semana antes, a BRFoods fechara uma troca de ativos com o grupo Marfrig, do empresário Marcos Molina, que lhe repassou parte de suas operações no país vizinho. Essa transação se soma à aquisição do controle acionário dos grupos argentinos Avex e Dánica, em outubro de 2011, por US$ 150 milhões. “Com isso, passamos a ter uma subsidiária de US$ 500 milhões por ano, nossa maior operação física fora do Brasil”, afirma Fay.

Segundo ele, o negócio anunciado com o Marfrig foi a melhor tacada de 2011 da BRFoods, o match point de um jogo que durou dois anos e meio. Finalmente, Fay pôde concluir a fusão entre a Sadia e a Perdigão, que deu origem à BRFoods, iniciada no dia 19 de maio de 2009 e que se arrastava desde julho do ano passado no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o órgão antitruste brasileiro. Naquele mês, preocupado com a concentração originada pela fusão na área de processamento de alimentos, o Cade determinou à BRFoods que se desfizesse de algumas fábricas, granjas e marcas para aprovar a associação. Desde então, o nome mais cotado para comprar a totalidade dos ativos avaliados entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões era o Marfrig. Mesmo assim, foram quatro meses de negociações veementemente desmentidas pelas duas partes até o anúncio definitivo. Pelo acordo, Molina vai pagar R$ 200 milhões em dinheiro, além de entregar à BRFoods, a Quickfood, sua filial na Argentina, e unidades de abate e produção de suínos no Mato Grosso. “Com o negócio fechado, a BRFoods entra em um processo mais acelerado de internacionalização, já que no Brasil não podemos comprar mais nada”, diz Fay. De acordo com ele, aqui, a BRFoods só pode crescer de forma orgânica, com a construção de fábricas próprias.

Troca de ativos

Da BRFoods para o Marfrig

● oito centros de distribuição

● planta industrial de suínos em Carambeí (PR)

● 64,57% das ações da Excelsior Alimentos S.A.

● marcas e fábricas da Rezende, Wilson, Patitas, Tekitos, Texas, Escolha Saudável, Light Elegant, Fiesta, Freski, Confiança, Doriana e Delicata

Do Marfrig para a BRFoods

● a Quickfood, dona das marcas Paty, Barny e Estancia Del Sur, na Argentina. As unidades processam hambúrgueres, presuntos e salsichas, e uma delas abate bovinos

● uma fábrica de ração e uma planta industrial de suínos em Rosário Oeste (MT)

● R$ 200 milhões

A Brasil Foods troca ativos com O Marfrig e estabelece

na Argentina sua maior operação física fora do Brasil, que deve faturar US $ 500 milhões em 2012

Produção integrada:

na Argentina, a BRFoods vai fazer parcerias com os produtores locais para aumentar o volume de aves e suínos abatidos

Na Argentina, a BRFoods passa a ter 13 fábricas para processamento de bovinos, aves e suínos, além da produção de margarinas. O grupo Quickfood, por exemplo, é o dono da marca Paty, a líder em venda de hambúrguer no país vizinho. “Em 2012, não podemos pensar em outra tarefa no país que não seja a de arrumar a casa”, diz Fay. Segundo ele, a transferência das operações sob o comando do Marfrig para a BRFoods irá até meados de 2012. A partir daí, a empresa pretende no longo prazo implantar na Argentina o modelo de criação integrada, uma invenção do fundador da Sadia, Attilio Fontana, na década de 1950, em Concórdia (SC). Naquela época, por dez anos, Fontana ia à missa aos domingos tentar convencer os colonos a criar os porcos que ele precisava para abastecer seu frigorífico. “Hoje, quase todos os criadores de aves e suínos no País são integrados a alguma indústria”, diz Wilson Mello Neto, vice-presidente de assuntos corporativos da BRFoods. “Isso faz parte da cultura no campo.” Situação bem diferente da existente no mercado argentino, que praticamente ignora o sistema. A maior aposta da BRFoods está em Rio Cuarto, na região de Córdoba, onde se localiza uma exceção à essa regra. A unidade da Avex, que abate aves para o mercado externo, é uma das poucas que mantêm a produção integrada. “Hoje, a Avex abate pouco mais de 130 mil aves por dia, mas vamos passar para 300 mil aves, em dois anos”, diz Mello Neto.

Além das operações na Argentina, Fay anunciou a construção de uma fábrica para processar 80 mil toneladas de alimentos em Abu Dabhi, nos Emirados Árabes, no valor de US$ 120 milhões. O início das operações será no final de 2012. Em Xangai, na China, a BRFoods está criando uma joint venture com a empresa Dah Chong Hong, cliente de mais de 13 anos da antiga Sadia. A intenção é diversificar as vendas no país, hoje restrita à exportação de pés de frango. “Com a joint venture, vamos entrar no varejo chinês”, diz Fay, que anunciou também a intenção de construir uma fábrica na China. “Queremos exportar carcaças de suíno in natura e estabelecer nossa marca no país”, diz Fay.

Como a Brasil Foods chegou até aqui

● Nos anos 1930, membros das famílias italianas Bonato, Pozoni e Brandalise fundam a Perdigão, no oeste de Santa Catarina

● Uma década depois, Attilio Fontana cria a Sadia, na vizinha Concórdia, também no oeste catarinense

● Ambas se tornam as maiores empresas do País na fabricação de alimentos processados de aves e suínos

● Em 2008, com um prejuízo de R$ 2,5 bilhões, provocado por manipulações no mercado de derivativos, a Sadia beira a insolvência

Em 19 de maio de 2009, a Sadia e a Perdigão anunciam a fusão entre as duas empresas e criam a BRFoods, avaliada em US$ 31,4 bilhões

● No dia 13 de julho de 2011, o Cade determina à BRFoods a venda de marcas e ativos avaliados entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões

● Em 8 de dezembro de 2011, a BRFoods cumpre a determinação do Cade ao fechar um acordo de troca de ativos com o grupo Marfrig