10/09/2017 - 8:00
Os brasileiros em geral andam aborrecidos com a realidade do nosso País. Não bastasse um cenário global em que faltam líderes autênticos, e no qual se repetem com frequência cenas dramáticas de naufrágios no Mediterrâneo de imigrantes desesperados pela guerra, pela miséria e pela fome em suas nações, vivemos internamente uma sucessão de crises. Temos uma crise política que se arrasta há meses, contribuindo para uma crise econômica que leva à desconfiança de investidores, aumentando a tragédia de um desemprego sem precedentes nos tempos modernos, uma crise moral e até ética com consequentes escândalos de corrupção inimagináveis, tudo embrulhado numa epidemia de “lei de Gérson”, onde cada um trata de buscar soluções vantajosas para si e para os seus mais próximos, sem compromisso com o coletivo. Resultado: faltam rumos para todos. Falta um horizonte onde queiramos todos chegar.
Neste ambiente negativo, há um setor que vai atravessando as dificuldades e sustentando o que resta de positivo na nossa sócio-economia. Trata-se do agronegócio. Ficou evidente – em especial nos três primeiros meses deste ano – que o PIB só cresceu por causa das cadeias produtivas do agro, que também garantiram o saldo comercial positivo e que, aleluia, não desempregaram. Aliás, este fenômeno se repete há alguns anos, fruto da geração e incorporação de tecnologia sustentável nas fazendas brasileiras de todos os rincões e de todos os tamanhos. E os números provam isso à exaustão: de 1990, ano do fatídico Plano Collor, até hoje, a área plantada com grãos no Brasil cresceu 60% enquanto a produção deles aumentou 305%! Este aumento de produtividade agrícola foi responsável por outros números espetaculares: são cultivados hoje 60 milhões de hectares com grãos em todo o Brasil, mas se tivéssemos a mesma produtividade por hectare de 1990, seriam necessários mais 81 milhões de hectares para colher a safra deste ano, que, portanto, não foram desmatados.
Estes dados e muitos outros sobre a sustentabilidade do agro já são hoje de conhecimento da imensa maioria dos brasileiros. Graças a uma mídia bem profissional, todo mundo reconhece a importância do campo, sabe que o agronegócio representa 25% do PIB nacional, gera um quarto dos empregos formais e responde por mais de 80% do saldo comercial. Felizmente esse reconhecimento é patente. No entanto, nossa população ainda não incorporou um outro sentimento, o de orgulho por esse sucesso. É como se fosse um resultado exclusivo dos produtores rurais, com o qual os cidadãos urbanos não tivessem nada a ver. Mas isso não é verdade: não haveria o êxito do campo sem a notável contribuição de todos os setores urbanos, seja na área de serviços, seja na industrial. Não haveria plantio e colheita sem máquinas e implementos produzidos nas fábricas, e muito menos sem fertilizantes, defensivos, sementes. Nada aconteceria sem crédito, sem assistência técnica, sem seguro e sem transporte da cidade para o campo e vice-versa. As colheitas apodreceriam sem armazéns e silos construídos com material gerado nas siderurgias e nas cerâmicas, não haveria valor agregado sem a indústria de alimentos e de embalagens, não haveria mesa suprida sem modernos mecanismos de distribuição.
Caminhões, trens e barcaças levam os alimentos para todas as cidades e para os portos, visando o exterior. Navios atravessam os mares para abastecer mais de 150 países com o que produzimos. E todas estas operações são planejadas e executadas por cidadãos urbanos, sem nenhuma ligação aparente com o rural. É preciso desfazer essa impressão. Não há um único trabalhador brasileiro, homem ou mulher, cujo esforço não ajude direta ou indiretamente este processo vitorioso de alimentar o planeta. Por isso, todo mundo pode ter orgulho de contribuir com o sucesso da agropecuária. Todos podem ter certeza de que a honra que invade os peitos dos nossos produtores rurais tem lugar idêntico nos corações de nossos urbanos.
Roberto Rodrigues é coordenador do GV Agro, da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo (SP)