Pertencente a um grupo de vírus que causa doenças respiratórias, como resfriados comuns, bronquite, pneumonia e até problemas intestinais, o adenovírus pode desencadear um quadro de gripe associado a conjuntivite em crianças. Elas apresentam sinais de resfriado e, posteriormente, secreção nos olhos. Os sintomas podem durar 14 dias.

Hospitais e médicos de São Paulo relatam aumento de casos com esses sintomas nas últimas semanas. Segundo a Rede D’Or São Luiz, nos últimos seis meses foi observado um crescimento importante da incidência de quadros virais nas crianças.

Na unidade Anália Franco, o adenovírus predominou por dois meses, sendo comum na faixa etária de 2 a 6 anos, em média. Atualmente, houve também crescimento dos quadros relacionados à influenza (gripe comum), com alteração da faixa etária, em geral acima de 8 anos.

“Do total de atendimentos no pronto-socorro relacionados a síndromes gripais, em torno de 50% estavam relacionados com o adenovírus nos últimos dois meses. Os casos começaram a cair um pouco, mas ainda não temos estimativa. Há dez dias, começaram a subir também os casos de influenza, devendo permanecer em alta nas próximas duas a três semanas. Ainda vamos estimar qual o impacto deste outro atendimento”, afirma Thiago Gara Caetano, coordenador da Pediatria do Hospital São Luiz. A alta de infecções, segundo ele, não resultou em crescimento de internações.

No caso de influenza, os pacientes apresentam febre alta em períodos de 24 horas a 48 horas e sintomas respiratórios. Já no caso de adenovírus, os sintomas são respiratórios e/ou gastrointestinais. “Ainda no caso de adenovírus, as crianças também produzem muita secreção que, às vezes, sai pelo olho. Isso traz reação inflamatória ali. Uma conjuntivite secundária à produção de catarro”, esclarece Caetano.

INFECÇÃO

O adenovírus é um dos vírus causadores dessas doenças respiratórias, especialmente em crianças, apesar de ser um vírus que pode acometer pessoas de qualquer idade. “As infecções mais comuns por adenovírus são os quadros de vias aéreas superiores acompanhados de manifestações gastrointestinais – diarreia e vômito – e de conjuntivite”, diz Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“Embora nem sempre seja muito fácil diferenciar um quadro do outro, alguns sintomas são sugestivos de se tratar de um vírus ou de outro. Mas, claro, a confirmação mesmo deve ser feita por meio de testes virais que detectam exatamente qual é o vírus envolvido”, acrescenta o pediatra infectologista.

Apesar de o inverno ser o período de maior circulação de vírus respiratórios, de maneira geral não há, no caso do adenovírus, uma característica tão marcante de sazonalidade. “Ainda temos visto para todos os vírus um acúmulo de suscetíveis casos em três anos, pois as crianças praticamente não foram expostas a nenhum vírus. Temos visto surto de influenza fora de época, tivemos casos de vírus sincicial muito acima da média e com o adenovírus não é diferente”, avalia Kfouri.

“Os adenovírus têm protagonismo entre crianças pré-escolares e também menores de dois anos”, acrescenta Daniella Bomfim, diretora técnica e infectologista pediátrica do Hospital infantil Sabará, que também confirmou o aumento pela procura por PS pediátricos nos últimos 15 dias.

De acordo com o Sabará, em setembro deste ano foram realizados 174 exames de painel viral, dos quais 44 deram positivo. No mesmo mês do ano passado, foram 49 exames, sendo 2 detectados. No ano, a maioria dos casos detectados foram entre crianças de 1 a 5 anos. Por ser um vírus muito específico, o indicador de adenovírus não é realizado em pacientes durante atendimento em pronto-socorro, mas refletem as crianças internadas.

Ainda de acordo com o Hospital infantil Sabará, em crianças geralmente o adenovírus causa infecções no trato respiratório e no trato intestinal. “A maioria das infecções por adenovírus é leve, com poucos sintomas. No entanto, cada criança pode experimentar sintomas de forma diferente. Infecções respiratórias (os sintomas podem se desenvolver de 2 a 14 dias após a exposição) e infecções do trato intestinal (sintomas podem se desenvolver entre 3 e 10 dias após a exposição)”, orienta.

CONJUNTIVITE

Conforme Márcia Keiko Uyeno Tabuse, presidente do Departamento de Oftalmologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), a conjuntivite por adenovírus é autolimitada, ou seja, o sistema imunológico elimina o vírus, entre 7 a 10 dias. “Mas, em alguns casos, pode se arrastar por mais tempo, evoluindo com a formação de membrana e infiltrados corneanos”, diz.

Embora não tenha dados precisos, Márcia afirma que no pronto-socorro do Hospital São Paulo, ligado à Unifesp, também houve aumento de atendimentos nos últimos meses. “A conjuntivite é mais comum nas crianças que brincam juntas, compartilham brinquedos, colocam as mãozinhas nos olhos sem lavar, e se contaminam facilmente. O quadro de conjuntivite pode vir acompanhado do quadro gripal, com febre, muita secreção ao acordar, olhos vermelhos e gânglio pré-auricular”, continua.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo afirma que as referências estaduais para atendimento pediátrico são os hospitais Darcy Vargas e Cândido Fontoura. Nos últimos 30 dias, ambos registraram um aumento devido à sazonalidade em cerca de 20% nos atendimentos de pronto-socorro. Os principais diagnósticos são de casos gripais, envolvendo basicamente, febre, tosse, coriza, dor de garganta e chiado no peito.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.