São Paulo, 3 – O Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que completou 133 anos no sábado, 27, está desenvolvendo uma tecnologia que pode gerar a primeira variedade de laranja doce resistente à Xylella fastidiosa, bactéria causadora da Clorose Variegada de Citros (CVC), e a outras doenças que afetam a citricultura. A CVC, também conhecida como amarelinho, ataca todas as variedades comerciais de citros, reduzindo drasticamente a produção.

Atualmente, a CVC está sob controle no Estado de São Paulo, maior produtor de laranjas do País, graças a uma legislação que obriga a produção de mudas em telados à prova de insetos, um dos fatores principais para o controle – a cigarrinha é o principal vetor do amarelinho. Hoje a CVC é controlada de modo indireto, quando as plantas são pulverizadas com inseticidas contra outra doença, o HLB, ou greening.

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Para chegar a essa planta de laranja resistente, o grupo do Centro de Citricultura do IAC estudou e identificou um gene presente na tangerina, que normalmente é resistente à CVC. Os estudiosos conseguiram pela primeira vez transferir esse gene de tangerina para a laranja por meio de técnicas de engenharia genética. “Agora temos uma planta de laranja com gene de tangerina, que confere resistência à doença CVC”, afirmou a pesquisadora do Centro de Citricultura do IAC, Alessandra Alves de Souza. Este gene poderá ser usado não só em plantas de laranjas doces como também em outras culturas prejudicadas pela X. fastidiosa, como as oliveiras e ameixeiras, explica ela.

Por se tratar de um gene cuja função está associada ao impedimento do movimento sistêmico da bactéria pela planta, os pesquisadores acreditam que essa planta também apresentará resistência ao HLB, uma vez que a bactéria do HLB também é sistêmica nas plantas de citros. Os experimentos estão em andamento. Como a técnica consiste na inserção de gene de espécie diferente daquela que o recebe (tangerina), a pesquisadora acredita que, ao se obter uma nova cultivar de laranja a partir desse conhecimento, o produto não sofrerá resistência por parte dos consumidores.

Prazo

Outro avanço alcançado pelo estudo, iniciado em 2017, é que o prazo de pesquisa, que antes era de três anos, passou para menos de 12 meses, graças à aplicação também inédita da planta Arabidopsis, gênero que pertence à mesma família da couve, e é mundialmente usada como planta modelo para acelerar estudos de genética das plantas.

Em vez de testar a função do gene diretamente em citros, que demoraria anos para chegar aos resultados, a equipe primeiramente introduziu o gene selecionado nessa planta modelo, obtendo resposta num prazo inferior a 12 meses. “Nosso estudo foi completo, inédito, pois foi do básico ao aplicado”, informa Alessandra. Seguindo esse modelo já temos plantas de citros em estudo com genes de tangerina promissores para resistência a outras doenças que afetam a citricultura.

Alessandra explicou que a pesquisa já está em condição de ser testada a campo. No entanto, ela ponderou que os citros são plantas perenes, que demoram para dar frutos. Além disso, é preciso a produção de clones que serão plantados no campo, para avaliar a qualidade e a produtividade. “Creio que são necessários cerca de 5 anos para termos uma resposta sobre a qualidade dos frutos, entre outros fatores, para, daí sim, pensarmos algo comercial”, concluiu.