14/10/2013 - 17:20
O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, fez uma descoberta inédita por meio do seu Centro de Citricultura ³Sylvio Moreira². Uma molécula já usada para tratamento de infecções bacterianas as vias aéreas de humanos mostrou-se eficiente no controle de fitopatógenos dos citros, incluindo a Xylella fastidiosa. O ineditismo está no fato de o controle estar sendo feito não com agrotóxicos, mas com princípio ativo de medicamentos. ³O trabalho é inédito, pois apesar de essa molécula ser usada na medicina, nunca foi testada para combater doenças de planta², diz Alessandra Alves de Souza, pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
A pesquisadora afirma que a importância da descoberta está no novo uso do produto com menor impacto ambiental, já usado como medicamento, o que mostra não ser prejudicial para o homem. ³Ressaltamos que a dose usada na planta é bem menor que a usada em seres humanos. Essa molécula também é usada para combater os radicais livres e ajuda na prática de exercícios físicos², explica. A equipe fez pedido de patente para a descoberta no Brasil e no exterior.
Os pesquisadores avaliaram esta molécula como estratégia para inibir ou desagregar o biofilme bacteriano da Xylella fastidiosa, causadora da Clorose Variegada dos Citros (CVC), e o a Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico. O biofilme formado pela bactéria Xanthomonas fica na superfície das folhas e o constituído pela Xylella se instala dentro da planta.
De acordo com a pesquisadora, no caso da Xanthomonas citri, esse biofilme protege as bactérias de estresses ambientais, entre eles o calor e raios UV, e de compostos antimicrobianos que possam afetar o desenvolvimento da bactéria, dentre eles o cobre, rotineiramente utilizado no controle químico da doença.
A pesquisa no Centro de Citricultura do IAC buscou, portanto, encontrar uma estratégia para retardar ou inibir a formação dessa capa protetora nas folhas antes da infecção, a fim de tornar a Xanthomonas mais vulnerável. Assim a bactéria ficaria mais suscetível aos estresses ambientais e aos compostos antimicrobianos. Consequentemente, seria reduzida também a quantidade de produtos químicos e os focos da doença. ³Com esse objetivo, avaliamos o análogo de aminoácido, o N-acetil-cisteína, chamado NAC, um agente com propriedades antibacterianas e que reduz a formação de biofilme em várias bactérias, principalmente causadoras de doenças em seres humanos², explica.
A pesquisa foi desenvolvida inicialmente em plantas com CVC e que receberam NAC com aplicações do produto por diferentes sistemas, como hidroponia e fertirrigação. Nesses casos, a doença voltou três meses após a interrupção do tratamento. Foi avaliado também o uso do NAC acoplado a um adubo de liberação lenta, situação em que a doença retornou apenas seis meses após a interrupção do produto. ³Isso indica que o produto deve ser aplicado temporalmente, mas que dependendo da forma de aplicação os intervalos de aplicação poderão ser maiores², diz.
Essa pesquisa teve duração de quatro anos. ³Os resultados mostram que esta molécula não só reduziu a quantidade de bactérias (Xylella fastidiosa) capazes de colonizar o xilema das plantas, como também foi capaz de reverter os sintomas de plantas com CVC. No caso da Xanthomonas, o NAC teve efeito de desprendimento da comunidade bacteriana que vive sobre as folhas², explica. Segundo Alessandra, a aplicação de N-acetil-cisteína com cobre reduziu em até mil vezes a concentração de bactérias nas folhas. ³Daí concluímos poder se tratar de nova estratégia de manejo do Cancro Cítrico.²
Apesar de os estudos serem feitos em condições controladas, em laboratórios e casa de vegetação, o custo final do uso dessa molécula é bastante viável. ³Lembrando que o tratamento atual para CVC é à base de inseticida, o que além de alto custo, tem um alto impacto ambiental², diz a pesquisadora.
A equipe segue estudando novas formas de aplicação do NAC a fim de encontrar respostas ainda mais eficientes. Os próximos passos envolvem testes em campo para controle da CVC e testes em casa de vegetação para controle do Cancro Cítrico e HLB (Greening). O IAC oferecerá também apoio a outros grupos para testes em outras culturas. A pesquisa tem apoio dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) de Genômica para Melhoramento de Citros, sob a coordenação do pesquisador e diretor do Centro de Citricultura, Marcos Antonio Machado. Fonte: Carla Gomes/IAC.