22/05/2023 - 18:17
O Ibovespa buscou consolidar a linha de 110 mil pontos nesta abertura de semana, em que operou perto do zero a zero em boa parte do dia, sem ímpeto para seguir adiante, mas sem forte inclinação para realizar lucros mesmo tendo avançado em 11 de 12 sessões desde 4 de maio, até a última sexta-feira. Hoje, a referência da B3 encerrou em baixa de 0,48%, aos 110.213,12 pontos, bem mais perto da mínima (110.178,19), do fim da tarde, do que da máxima (111.643,30) nesta segunda-feira, em que saiu de abertura a 110.744,91 pontos. Foi a terceira sessão consecutiva em que o Ibovespa manteve a marca psicológica de 110 mil no fechamento. No mês, sobe 5,54% e, no ano, 0,44%. O giro ficou em apenas R$ 21,1 bilhões na sessão.
O dia foi de recuo para as principais ações e setores da carteira, como os de commodities e finanças: Petrobras (ON -1,50%, PN -1,16%), Vale (ON -1,60%) e grandes bancos (Itaú PN -1,90%, BB ON -1,32%, Bradesco PN -1,00%). Na ponta perdedora do Ibovespa, Cielo (-3,71%), MRV (-3,36%) e Braskem (-3,23%). No lado oposto, Alpargatas (+17,41%), Azul (+9,38%) e Cogna (+7,23%).
A forte alta em Alpargatas decorreu de comunicado dos controladores sobre a realização de OPA, oferta pública de ações, para aquisição de 32 milhões de papéis, o correspondente a cerca de 5% do ‘free float’ da companhia, explica Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos. “O prêmio estipulado na OPA foi de cerca de 17% em relação ao fechamento da última sexta-feira, o que se refletiu de forma bem próxima na variação da ação na sessão de hoje”, acrescenta Costa.
Além da B3, de forma geral a cautela também marcou esta abertura de semana em Nova York, onde os principais índices de ações encerraram o dia com variações discretas, entre -0,42% (Dow Jones) e +0,50% (Nasdaq), em meio ao persistente impasse sobre a elevação do teto da dívida federal nos Estados Unidos, observa Alan Dias Pimentel, especialista em investimentos da Blue3.
“Desde a suspensão das negociações na última sexta, com os republicanos abandonando reunião a portas fechadas, o clima ficou mais tenso, sem sinais de progresso. O governo americano continua a correr contra o tempo para impedir um calote histórico”, acrescenta o analista da Blue3, destacando que, por outro lado, a situação tem contribuído para tom em geral mais ameno das autoridades do Federal Reserve com relação aos juros – apesar de algumas declarações, mais duras, hoje.
Aqui no Brasil, a reiteração da rigidez do presidente do BC, Roberto Campos Neto, com relação à Selic, em evento nesta segunda-feira, manteve a pressão sobre a curva de juros doméstica. Ainda assim, o índice de consumo fechou em alta de 0,66% e o de materiais básicos, mais correlacionado à demanda externa, avançou apenas 0,19%.
Lá fora, “há um compasso de espera para o desfecho das negociações entre democratas e republicanos. Com o retorno do presidente Biden aos Estados Unidos após a reunião do G7, novas rodadas de negociações devem ocorrer ainda neste começo de semana, sem muitos catalisadores para o mercado nesse início”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas, destacando a divulgação, na próxima sexta-feira, do índice PCE, métrica para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos monitorada de perto pelo BC americano, o Fed.
No Brasil, as expectativas estão concentradas, nesta semana, na votação do arcabouço fiscal na Câmara, que deve ocorrer até a quarta-feira. “O Boletim Focus desta semana trouxe pequena melhora na perspectiva para a inflação de 2023 e 2024, o que contribui para os resultados de empresas e setores ligados ao ciclo doméstico, como as varejistas e as construtoras”, diz Pimentel, da Blue3.
“Estamos vendo há algumas semanas um movimento de rotação de empresas com liquidez, defensivas e de baixa volatilidade para o oposto: small caps com beta alto e liquidez menor”, diz Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research. “Salvo algum imprevisto, com a expectativa de inflação e de juros em queda, ainda há bastante espaço para ativos que estavam amassados se recuperarem nas próximas semanas”, acrescenta.
Por outro lado, ele ressalva haver ativos que já acumulam recuperação de 30% a 60%, e “sem quedas relevantes pelo caminho”, o que antecipa a possibilidade de “lateralização” ou mesmo de realização de lucros mais forte, em breve.
No cenário macro, “o arcabouço deve ser aprovado sem grandes dificuldades. Mas o impacto do texto sobre a perspectiva das contas públicas requer cautela. O novo arcabouço ainda não é o suficiente para melhorar significativamente as projeções fiscais nos próximos anos, e a divulgação do relatório bimestral sobre as receitas e despesas acabou sendo um exemplo disso, com muita incerteza sobre o comportamento das receitas, impactando negativamente as projeções de déficit fiscal divulgadas hoje pelo governo”, observa Ashikawa, da Principal Claritas.