A indicação de recuperação das bolsas europeias e de Nova York é insuficiente para animar o Ibovespa nesta segunda-feira, 27, dada a queda do minério de ferro e as incertezas locais. Uma das dúvidas internas é quanto à MP dos combustíveis, que expira na terça-feira e há impasse em torno da manutenção ou não do alívio tributário nos preços.

A depender da decisão, poderá elevar ainda mais os temores dos investidores com o fiscal e a inflação do Brasil, de modo a adiar mais o início de queda da Selic. Por isso, o mercado segue de olho em Brasília, onde o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, está reunido nesta manhã para tratar do tema com sua equipe econômica.

“O mercado está esperando o que sairá da reunião”, diz Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “Tem essa discussão na mesa, assim como o arcabouço fiscal e a reforma tributária, esperados pelo mercado. Mas hoje é a decisão da reunião sobre a reoneração ou não que irá o mover o mercado para algum lugar. Pode ser que caminhe governo para um meio-termo”, diz.

A elevação dos índices de ações europeus e norte-americanos é vista somente como uma tentativa de recuperação após as recentes perdas sem portanto com condições de evitar uma desvalorização do Ibovespa nesta reta final do mês. Na sexta-feira, as bolsas por lá encerraram com recuo, contaminando o índice Bovespa, que fechou em baixa de 1,67%, aos 105.798,43 pontos. A queda no mês no índice Bovespa era de 6,76% a até as 11h08, após ganho de 0,89% em igual mês de 2022.

Nos EUA, o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) tenha de subir mais os juros no país prossegue, após o PCE forte, embora as apostas de aumento no ritmo hoje tenham diminuído um pouco. O petróleo tem queda discreta, após testar alta, enquanto o minério de ferro fechou em baixa de 2,53% em Dalian, na China a US$ 127,17 a tonelada. As ações da Petrobras, porém sobem entre 0,80% (PN) e 0,50% (ON), enquanto as Vale caem mais de 1%.

Há pouco, saíram os dados de encomendas de bens duráveis dos EUA, que caíram 4,5% em janeiro ante dezembro, contra previsão de -3,6%. Por aqui, tem a safra de balanços, com destaque para Petrobras, cujos números saem na quarta-feira.

Além de o mercado acompanhar com afinco os desdobramentos da reunião entre o Lula nesta manhã com membros do governo (dentre eles Fernando Haddad, da Fazenda, Rui Costa, da Casa Civil, e Jean Paul Pratas, da Petrobras), também monitora a escolha do substituto de Bruno Serra na diretora de Política Monetária do Banco Central.

A MCM Consultores ressalta que neste fechamento de mês, dois temas estão cercados de incerteza. O primeiro se refere à volta da cobrança da Cide, PIS e Cofins sobre combustíveis a partir de 1º de março. “A equipe econômica conta com essa receita para reduzir o déficit público”, lembra em nota.

Outro tema, acrescenta a consultoria, tema diz respeito aos substitutos de Bruno Serra e Paulo Souza na diretoria do Banco Central. Os mandatos dos diretores terminam amanhã. “Souza pode ser reconduzido por Lula.”

Ao mesmo tempo, os investidores avaliam a pesquisa Focus do BC, divulgada mais cedo. O operador de renda variável da Manchester destaca que houve leve piora em alguns indicadores na Focus e manutenção de outros, o que pode ser um bom sinal. “Pode ser que o mercado esteja começando a enxergar o fim da piora no curto prazo.”

A projeção para o IPCA – índice oficial de inflação – deste ano subiu marginalmente, de 5,89% para 5,90%. Para 2024, a estimativa continuou em 4,02%. A mediana para a taxa Selic no fim de 2023 continuou em 12,75% ao ano, enquanto para o término de 2024 se manteve em 10,00%.

Às 11h14, o Ibovespa caía 0,21%, aos 105.524,61 pontos, ante mínima diária aos 105.511,35 pontos (-0,27%) e máxima aos 106.345,61 pontos (alta de 0,52%), vindo de abertura aos 105.807,20 pontos (alta de 0,01%).