Após abrir na marca dos 109 mil pontos nesta quinta-feira, 18, o Ibovespa aprofundou a queda, indo aos 108 mil pontos. A cautela dos investidores em relação à nova política de preços da Petrobras se soma ao recuo do petróleo no exterior, dando espaço para realização das ações da estatal.

Os papéis ligados ao minério de ferro também recuam, depois de altas recentes. Em Nova York os sinais são divergentes e moderados, em meio a expectativas de avanço nas negociações sobre o teto da dívida dos EUA e a dados fortes de emprego, sugerindo manutenção dos juros no nível atual por mais tempo.

“Ontem, o Ibovespa foi bem na linha das perspectivas do avanço do arcabouço fiscal, do fortalecimento das ações de empresas ligadas à economia doméstica, que sofrem exatamente com o dólar e os juros altos. Enquanto vemos economias mundo a fora revisando para baixo projeções para o PIB, aqui estão sendo revisadas para cima”, cita Jadye Lima, economista e head de renda variável na WIT Invest.

Na quarta-feira, o Índice Bovespa fechou em alta de 1,17%, aos 109.459,95 pontos. Hoje, a agenda está esvaziada e ainda não empolga a aprovação da urgência do projeto das novas regras fiscais pelo plenário da Câmara, ontem. Foram 367 votos a favor e 102 contra, permitindo que seja levado diretamente ao plenário, sem passar por comissões.

“A aprovação com larga margem do regime de urgência para a tramitação do novo arcabouço fiscal será bem recebida, mas não chega a surpreender”, avalia em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.

Para João Marcos, especialista em investimentos da Blue3, o fato de o texto ter sido colocado em regime de urgência da votação poderia ser visto como negativo, mas acabou sendo bem visto. “E pode ser aprovado até terça-feira”, diz. “Hoje, tem uma queda do Ibovespa, mas nada que dê para colocar na conta do arcabouço”, completa, ao referir-se mais a uma realização de lucros.

Na avaliação de Jadye, da WIT Invest, ainda há desconforto dos investidores. “Ainda existe, tem narrativas externas e internas, e fica no radar o que acontecerá o arcabouço”, afirma, para quem um recuo do Índice Bovespa até o nível dos 105 mil pontos seria até saudável, após altas recentes, quando se aproximou dos 110 mil pontos.

As notícias envolvendo a Petrobras seguem no radar do mercado, que tenta antever os efeitos da mudança na política de preços da estatal anunciada esta semana e em meio ao fim da redução parcial dos impostos federais da gasolina e do etanol em julho.

Especificamente sobre a estatal, o presidente da empresa, Jean Paul Prates, disse que conversará com o Cade para rever termos que envolvem a venda de oito refinarias para a iniciativa privada.

Já em relação aos combustíveis, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a Petrobras ainda tem margem para reduzir os preços para compensar o fim do ciclo de reoneração que está sendo feito pelo governo. Ele disse que o País precisa aproveitar o momento em que o petróleo e o dólar caíram e o governo volta a tributar os combustíveis para manter impactos positivos na bomba.

“Haddad fala em nova redução dos combustíveis para compensar a alta dos impostos federais em julho, o que indica que a nova política de preços dos combustíveis será utilizada para compensar os efeitos inflacionários dos impostos maiores. Se o petróleo não recuar no exterior, Petrobras arcará com este custo financeiro. Incertezas em torno do cenário da empresa continuam elevadas”, cita em nota a MCM Consultores.

Hoje, o petróleo cai, após avançar quase 3% ontem, enquanto o minério de ferro subiu 1,91% em Dalian.

Em Nova York, as bolsas têm sinais divergentes moderados, se dividindo entre perspectivas de avanço nas negociações sobre o teto da dívida dos EUA e a queda maior que a esperada dos pedidos de auxílio-desemprego, que poderá corroborar com a política apertada do Federal Reserve (Fed) por mais tempo.

“A principal notícia é a questão envolvendo a dívida americana, que pode colocar risco nas questões sobre crédito, de forma a afetar outras economias”, diz João Marcos, da Blue3.

“O Ibovespa tem o apoio do fator local, o que inclui a avaliação de melhor desempenho da economia, mas os ganhos recentes e as preocupações em torno da Petrobras são limitantes”, analisa Campos Neto, completando que ainda assim há espaço para que o Índice Bovespa rompa o nível dos 110 mil pontos.

Às 11h18, o Ibovespa cedia 0,02%, aos 109.435,84 pontos, ante máxima aos 109.571,24 pontos (alta de 0,10%) e mínima aos 108.864,44 pontos (-0,54%). Petrobrás cedia 0,3% (PN) e -0,59%) e Vale perdia 0,76%.