“A agregação de valor trará benefícios aos produtores, em especial, ao pequeno e médio”

Maria Flávia Tavares,

Coordenadora do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM-RS e diretora da FT Consultoria em Agronegócios.

O Brasil terá a maior produção agrícola do mundo na próxima década, segundo o relatório anual Perspectivas Agrícolas 2010- 2019, publicado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO/ ONU e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. A expectativa é de um aumento de 40% no volume colhido até 2019. Trata-se de um crescimento superior ao de Rússia, Ucrânia, China e Índia, que registrarão percentual médio superior a 20% no mesmo período.

A liderança nas exportações de suco de laranja, carne bovina e frango deve se manter, enquanto a carne suína, hoje em quarto lugar no ranking mundial, deverá melhorar. Outra posição de destaque do Brasil é na exportação de soja em grão. Somos o segundo maior exportador do mundo. Segundo dados da Embrapa, entre 1990 e 2005, a taxa anual média de crescimento das exportações do grão foi de 14,82%, a taxa do óleo de soja foi de 8,6% e a do farelo, 3,16%. Esse aumento na quantidade exportada de grãos ocorreu a partir de 1996 e foi resultado da Lei Kandir, que desonerou de ICMS as exportações de bens primários, para trazer mais receitas a uma balança comercial na época deficitária.

A agregação de valor trará benefícios aos produtores rurais e, em especial, ao pequeno e médio produtor, que não tem condições de concorrer com uma grande empresa. Um exemplo de como é possível agregar valor foi dado por Henry Ford, em 1933, ao desenvolver nos Estados Unidos o primeiro produto construído à base de soja: um painel de carro feito de plástico de soja. Desde essa época, novas tecnologias que incluem o grão foram descobertas. Entre os produtos à base de soja, desenvolvidos pelos produtores e patrocinados pelo governo americano, estão xampus para pets, lubrificantes, isolante térmico para casas, velas feitas à base de cera de soja, produtos de limpeza, etc.

 

 

rentável: exemplos de agregação de valor são as cachaças de Paraty (RJ), registradas com indicações de procedência

Esse foi apenas um exemplo, mas existem outras possibilidades. Como o cacau, com o seu selo com aroma de chocolate, desenvolvido pelos Correios da França. A ideia foi desenvolvida com o objetivo de conter a queda do volume de cartas, além de estimular o consumo de chocolate.

Ainda que poucos, há alguns exemplos de agregação de valor do Brasil, por meio da Denominação de Origem (DO). É o caso do Arroz do Litoral Norte Gaúcho, que obteve o selo emitido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), atestando que o produto da região é diferente dos demais produzidos no País. Além desse caso, o Brasil possui sete regiões registradas com Indicação de Procedência: Pinto Bandeira (RS), para vinho tinto, branco e espumante; Região do Cerrado Mineiro (MG), para café; Vale dos Vinhedos (RS), para vinho tinto, branco e espumante; Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (RS), para carne bovina e derivados; Paraty (RJ), para cachaça e aguardente composta azulada; Vale do Submédio São Francisco (BA/PE), para manga e uvas de mesa; e Vale do Sinos (RS), para couro acabado.

Esses exemplos mostram que é muito melhor agregar valor e obter mais lucros do que exportar commodities e deixar o lucro para os outros países. Aliás, o Brasil é conhecido como o celeiro do mundo, mas de que adianta produzir tanto, se as estradas e os portos não conseguem escoar a produção? O governo tem uma parcela importante nisso, mas não basta, O produtor precisa se organizar, se informar e tratar a sua propriedade como uma empresa rural, deixar alguns conceitos no passado e ir em busca de novos desafios.