Dois incêndios em prédios de São Paulo que ficaram famosos nos anos 1970 – nos Edifícios Andraus e Joelma – forçaram uma mudança na prevenção ao fogo em imóveis no Brasil. Segundo especialistas, entre as transformações incluídas nas obras estão a proteção de fachadas, barreiras entre os pisos, saídas de emergência e uso de sprinklers (sistema de bombeamento de água).

A tragédia no Andraus, prédio de 32 pavimentos na Avenida São João, no centro, fez 50 anos ontem. Terminou com 16 mortos e mais de 300 feridos. “Foi um choque, para o Brasil todo, pois foi o primeiro incêndio de grandes proporções em edifícios altos”, afirma Rosaria Ono, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). “Na época, foi copiada a arquitetura estrangeira, de grandes janelas e áreas abertas para escritórios. Mas sem trazer toda a experiência e o conhecimento de proteção contra incêndio. Foi um grande erro e serviu de aprendizado.”

Dois anos depois, o fogo no Joelma, que abrigava um banco, teve número de vítimas maior (187) e escancarou a necessidade de melhorar a segurança dos imóveis no Brasil. “Houve uma regulamentação retroativa e para novas construções, com proteção de fachada, compartimentação dos espaços, mais de uma escada, uma série de coisas vieram nesse momento”, diz Rosaria.

O Código de Obras vigente na cidade, de 1934, era obsoleto. Não atendia às necessidades trazidas pela verticalização e avanços da engenharia. Segundo Marcelo Lima, diretor-geral do Instituto Sprinkler Brasil, a partir daí que o poder público se preocupou em criar códigos de leis específicos. Antes, afirma, a menção ao tema costumava estar restrita aos códigos de edificações, sem muitos detalhamentos. “A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) começou a fazer normas de incêndio com a criação de um grupo só para incêndio, foi criado o laboratório de incêndios do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), e foi criado o código de incêndio de são Paulo”, cita.

O jornalista Adriano Dolph, que lançou na quinta-feira, 24, o livro Fevereiro em Chamas, sobre grandes incêndios em São Paulo, destaca que o Andraus não tinha sistema de alarme ou brigada antifogo para minimizar a tragédia. Mas no incêndio de 50 anos atrás, segundo ele, uma preferência do arquiteto Roberto Andraus – entusiasta da aviação – ajudou a salvar vidas: o fato de o edifício ter heliponto – incomum na época da construção do imóvel. Já no Joelma, o teto não dava condições para isso. Na hora da tragédia, funcionários do local se jogaram do prédio na tentativa de escapar das chamas.

O livro também fala do Grande Avenida, em 1981. “O prédio já tinha passado por incêndio em 1969 e, depois, foi obrigado a atender uma série de normas. Mal sabiam as autoridades que a nova tragédia estava em andamento, pois nenhuma das alterações havia sido feita. As escadas viraram chaminé e muita gente morreu com a fumaça”, diz Dolph.

CUIDADOS

“Hoje a consciência é outra, em termos de proteção, que vem desde a concepção do projeto”, diz o coronel Rogério Bernardes Duarte, do Corpo de Bombeiros. Ao lado de Rosaria e de Silvio Bento da Silva, ele é autor do livro Problemática de Incêndio em Edifícios Altos. “Não podemos esquecer a tragédia que foi para que incêndios dessa natureza nunca mais aconteçam”, diz Duarte.

Para Lima, é preciso avançar mais. “Para a maioria dos prédios temos só uma escada de emergência. Países de legislação mais desenvolvida já pedem automaticamente duas escadas de emergência independentes. Caso uma esteja impedida, as pessoas podem sair pela outra.” Outros problemas, cita, são edifícios cujas fachadas têm material combustível e o controle de prevenção de fogo na indústria.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.