18/01/2018 - 11:36
Agronegócio direto | grandes empresas
Bela Vista de Goiás é um município minúsculo, quase um ponto perdido no mapa do Estado, habitado por cerca de 28 mil pessoas. Passaria despercebido e sem qualquer referência, caso dois de seus moradores, César Helou e seu irmão Marcos, não tivessem transformado uma pequena fábrica de produtos lácteos na quinta maior empresa de laticínios do País, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil). Fundado em 1955 e comprado pelo pai Saladi Helou em 1974, o Laticínios Bela Vista fica atrás, apenas, de duas multinacionais: a suíça Nestlé e a francesa Lactalis, e de uma cooperativa, a CCPR Itambé. “Nunca pensamos em ser grandes“, diz Cesar Helou, diretor de Relações Institucionais da empresa. “Mas, com muito esforço ao longo dos anos, conseguimos conquistar nosso espaço no setor.”
No mundo corporativo, o sucesso do negócio dos irmãos Helou se tornou conhecido em todo o País. O laticínio, que processa atualmente 5 milhões de litros de leite por dia, captados de 7 mil produtores, é referência em gestão, foco e visão de negócio. Pelo seu desempenho geral, neste ano o laticínio sagrou-se campeão da categoria Agronegócio Direto – Grandes Empresas do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017. Nessa categoria, o prêmio de Melhor Gestão Financeira ficou com o moinho paulista Anaconda, e o prêmio de Melhor Gestão Corporativa ficou com a e a alagoana Usina Coruripe, produtora de açúcar, álcool e energia elétrica a partir da cana-de-açúcar. No caso do Laticínio Bela Vista, na premiação por setor de atuação, a empresa ficou em primeiro lugar.
Atualmente, atuam no mercado de lácteos cerca de dois mil laticínios. De fato, o Brasil é grande no setor de lácteos, ficando entre os cinco maiores do mundo. São 1,3 milhão de pecuarisas que no ano passado produziram 33,6 bilhões de litros. Mas também é dono de um setor cheio de contradições que têm se tornado oportunidades de negócio. A explicacação é simples.
Embora seja um grande consumidor de leite fluído, com cerca de 60 litros anuais por habitante, quantidade muito próxima de países desenvolvidos, o consumo brasileiro de derivados de lácteos, como manteiga, queijos, iogurtes, achocolatados e leites especiais ainda é muito baixo. O Laticínios Bela Vista cresceu apostando, justamente, na diversificação de produtos para atender esse mercado. A empresa foi a primeira do mercado a lançar leite sem lactose. Também começou, no ano passado, a apostar em leites aromatizados. Não por acaso, a receita da empresa foi de R$ 2,7 bilhões no ano passado, 26,4% superior à do período anterior. Os irmãos Helou também puseram o pé na estrada. Além da unidade processadora em Goiás, hoje a empresa, com 2,3 mil funcionários, também atua em Maravilha (SC), Governador Valadares (MG) e Dr. Maurício Cardoso (RS). O portfólio é de cerca de 100 produtos das marcas Piracanjuba, Pirakids, LeitBom e Chocobom. “E pensar que assumimos uma empresa pequena e sem capital para investir ou contratar funcionários”, diz Helou. Hoje, a história é bem diferente. Agora, investimos para ser uma grande empresa.” E prossegue. “No final de 2016, compramos uma fábrica de queijos no Rio Grande do Sul e, em agosto deste ano, um pequeno laticínio no Paraná.” Os investimentos foram da ordem de R$ 10 milhões por cada unidade. Com as aquisições, o objetivo da família Helou é triplicar a produção do lácteos até 2019, incluindo novos produtos. “Também queremos crescer na área de queijos”, afirma Helou. Atualmente, são fabricadas 6 mil toneladas de produtos por ano. A companhia também tem interesse em instalar uma fábrica, em Imperatriz (MA), divisa com o Estado de Tocantins. O projeto servirá à demanda na região Nordeste.
No caso do Moinho Anaconda, também uma empresa familiar, fundada pelo imigrante português João Martins, em 1951, os esforços têm sido feitos para melhorar a logística da empresa, até nos detalhes. No ano passado, por exemplo, a Anaconda investiu R$ 15 milhões apenas para melhorar as operações de expedição da farinha industrializada. Gastos de recursos com esse refinamento somente são possíveis porque ela mantém uma política que pode até ser considarada conservadora, mas que tem dado resultado: a Anaconda gasta apenas o que tem em caixa, utilizando somente recursos próprios. “Desde a fundação do moinho mantemos a mesma política financeira”, diz Valnei Vargas Origuela, presidente do Moinho Anaconda. “Assim, não precisamos de financiamentos para melhorias.” No ano passado, a receita da empresa cresceu 10,1%, atingindo R$ 656 milhões. Para isso, o modelo de gestão financeira foi decisivo. No caso, Origuela utiliza uma lupa para monitorar a variacão cambial e comprar trigo no melhor momento. No ano passado, o processamento de matéria prima foi de 420 mil toneladas de farinha, mesmo volume do ano anterior, em suas fábricas de São Paulo e de Curitiba. Da Argentina vieram 168 mil toneladas, 40% da demanda da empresa. “Trabalhar com commodities é lidar com oportunidades, comprando quando o preço está mais baixo”, diz Origuela. “Ajuda, também, ter um caixa reforçado, e a gente trabalha para isso.” No fechamento do ano veio a recompensa. A Anaconda encerrou 2016 com 8,5 mil clientes para a sua farinha, 15% acima do ano anterior. Estão na lista, negócios como padarias, indústrias de massas, redes varejistas e de alimentação fora do lar.
Na Usina Coruripe, que levou o prêmio em gestão corporativa, tomar conta da clientela também está na agenda imediata. Mas, no caso, de seus clientes internos, os 9,4 mil funcionários que trabalham nas cinco unidades: as usinas de Coruripe (AL), onde está a sede da empresa, mais as de Iturama, Campo Florido, Limeira do Oeste e Carneirinho, todas em Minas Gerais. A Coruripe colocou como meta a redução de acidentes de trabalho: foram 24 ocorrências na safra 2016/2017. “Reduzimos os acidentes em 95%”, diz Jucelino Sousa, presidente da companhia. Na safra 2016/2017, a equipe ajudou a processar 14,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 446 bilhões de litros de etanol, 20,2 milhões de sacas de 50 quilos de açúcar, além de exportar 417 mil megawatts de energia elétrica.
Todo esse volume levou a empresa a uma receita de R$ 2,3 bilhões no ano passado, um aumento de 5,3%. Mas o resultado também veio de acertos de gestão. A usina é uma das mais tradicionais do setor. Foi fundada em 1925, mas nunca quis ficar parada no tempo. No ano passado foi montado um novo plano administrativo para refinar processos. “No modelo de gestão, formamos comitês permanentes em diversas áreas. Eles são fundamentais para o acompanhamento e a implementação de ações definidas no plano”, diz Sousa. Os comitês estão em várias áreas, como a produção, os Recursos Humanos e as finanças. “É desta forma que estamos conseguindo resultados positivos para a companhia.”