18/01/2017 - 13:26
Papel e celulose
Para o executivo Marcelo Castelli, presidente da Fibria, fabricante de papel e celulose, não há nada pior do que ficar parado. “Não podemos apenas esperar o que vai acontecer com o mercado”, afirma Castelli. É uma postura inteligente. Afinal, a Fibria atua em um setor extremamente volátil. A celulose é uma commodity muito sensível às variações de preços, especialmente em virtude do sobe e desce do dólar. A valorização de 48% da moeda americana em 2015, por exemplo, explica, em parte, o salto de 42,3% que a empresa teve em seu faturamento, que alcançou R$ 10,1 bilhões no ano. Mas não foi só isso. Castelli adota a estratégia de sempre se preparar para o pior. Não se trata de um pessimismo constante e embarcado. “É estar preparado para aguentar quando o mercado está ruim e aproveitar quando o mercado está bom”, diz ele. No ano passado, a situação esteve prá lá de boa.
A produção de celulose no Brasil cresceu 4,5%, em 2015, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), associação que representa o setor. A receita bruta das empresas foi de R$ 69 bilhões, o equivalente a 6% do PIB industrial brasileiro. As exportações subiram 8,6% e as importações caíram 2,2%. Com isso, a balança comercial do setor encerrou o ano com um saldo positivo de R$ 5,3 bilhões. O mercado de papel e celulose teve uma participação de 4,1% na balança comercial brasileira, quase um ponto porcentual acima do registrado um ano antes. Somando-se a esse cenário a alta expressiva do dólar, é difícil imaginar algo mais favorável. No caso da Fibria, os números seguem a mesma linha. Além da alta expressiva da receita, a companhia registrou um lucro líquido de R$ 357 milhões, mais do que o dobro do obtido em 2014. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu 91% no mesmo período, atingindo R$ 5,3 bilhões, com margem de 53%, a maior da história da companhia para um período de 12 meses. O fluxo de caixa livre, de R$ 2,9 bilhões, também foi recorde.
Isso só foi possível graças à obsessão de Castelli com a ideia de estar preparado. Essa postura se traduz em uma especialização para se traçar cenários, dos mais diversos. O executivo e sua equipe costumam simular condições adversas, até mesmo catastróficas, envolvendo, por exemplo, mudanças climáticas e sociais. Pode até parecer uma paranoia, mas, desse exercício, surgem ideias e inovações que estão iluminando o atual momento da empresa e devem garantir seu futuro. A Fibria, por exemplo, é a primeira empresa de celulose do mundo a adotar um sistema de viveiro de mudas de eucaliptos totalmente automatizado. As mudas são plantadas por robôs, o que preserva a integridade das árvores e evita perdas. Todos os processos de transporte, manuseio, seleção, irrigação, nutrição e controle meteorológico também são automatizados. Além disso, as novas instalações, uma área de 48 mil metros quadrados de estufas, seguem conceitos de sustentabilidade. A substituição dos antigos tubetes de plásticos das bandejas de produção de mudas por materiais mais modernos, feitos de papel biodegradável, ajuda a reduzir os resíduos e o impacto ambiental.
As inovações não param aí. A Fibria passou a utilizar drones para mapear e o monitorar as suas plantações. O que antes necessitava de uma equipe com um avião ou helicóptero, hoje é feito por apenas um profissional, munido de um veículo qualquer e um notebook. “O operador só joga o drone para cima. Ele faz o mapeamento e depois descarrega os dados no computador. Se tiver uma conexão à internet, é tudo em tempo real”, afirma Castelli. “Nosso pensamento é esse, de buscar soluções de fora do nosso mercado. Hoje, usamos robôs e drones, amanhã podemos estar pensando em um caminhão autônomo ou algo do tipo.” E, para garantir a perenidade desse pensamento, o executivo já trabalha em sua sucessão. Quem lidera o páreo é o diretor de operações Aires Galhardo, um jovem de 38 anos, formado em administração de empresas e nascido na zona leste de São Paulo, longe do campo. É assim, pensando fora da caixa, que a Fibria pretende passar pelos próximos movimentos do mercado de celulose.