O Brasil que se prepara para as Olimpíadas 2016, evento que acontecerá a pouco menos de um ano, não está de olho apenas nos atletas, nas medalhas e nos milhares de turistas que chegarão ao Rio de Janeiro, vindos dos quatro cantos do mundo. A competição, que deve movimentar R$ 1,7 bilhão, tem acendido um sinal de alerta entre os produtores rurais e as autoridades responsáveis pela proteção fitossanitária. É que com o desembarque em massa de visitantes – são esperadas 500 mil pessoas, das quais 10,5 mil são atletas de 205 países –, eleva-se o risco da entrada de pragas que podem atacar as lavouras e rebanhos, trazidas nas bagagens dos viajantes. “Os turistas  costumam trazer na bagagem frutas ou comidas pré-prontas e isso pode ser a porta de entrada para as pragas”, diz Luís Carlos Ribeiro, gerente técnico de regulamentação estadual da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). O sinal de alerta não é de modo algum exagerado. Nos últimos anos, o surgimento de pragas tem gerado grandes prejuízos econômicos ao Brasil. De acordo com o Ministério da Agricultura (Mapa), o País perde, anualmente, quase 8% de sua produção agrícola, o equivalente a 25 milhões de toneladas de produtos por causa de ataque de moscas, lagartas e doenças.  Os prejuízos são superiores a R$ 55 bilhões, por período. “Os riscos estão por todos os lados”, afirma Ribeiro.

  Para que o Brasil saia imune da Olimpíada, como ocorreu no ano passado com a realização da Copa do Mundo de futebol, durante a qual nenhuma ameaça de praga foi identificada, o Mapa listou algumas ações fundamentais. São elas: a ampliação das fiscalizações nos portos, aeroportos e fronteiras, a revisão dos protocolos de segurança,  com os parceiros comercias e um controle mais rígido da entrada dos equinos que participarão das provas olímpicas. As regras estão em conformidade internacional, baseadas no Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), vinculado à Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, do qual o País é signatário desde 1998.  “O objetivo é impedir a entrada e a disseminação de doenças que possam causar ameaças”, diz a bióloga Regina Lúcia Sugayama, diretora da Agropec Consultoria, de Belo Horizonte, que presta serviços na análise de riscos de pragas. Mesmo assim, não há garantia absoluta de proteção. Exemplo disso são a helicoverpa armigera, lagarta que tem atacado lavouras de soja a partir 2012, e a ferrugem asiática, um fungo presente no País desde a safra 1991. Não há evidências de como essas pragas  entraram no País, mas os prejuízos já superam os  US$ 27 bilhões, nos últimos anos. “Ainda há inúmeros pontos clandestinos de entrada de pessoas e mercadorias no Brasil”, diz Regina Lúcia. Outro invasor foi o bicudo-do-algodoeiro, que surgiu no início da década de 1980, nas redondezas do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e se espalhou rapidamente, gerando prejuízos de US$ 200 milhões ao ano.


Brechas: de acordo com a consultora Regina Lúcia Sugayama, da  Agropec, ainda  é falha a fiscalização   das fronteiras brasileira

Atualmente, o Mapa possui uma lista de 500 pragas quarentenárias catalogadas. Nos últimos tempos, a que mais tem tirado o sono dos produtores é o fungo Monilíase do Cacaueiro. A praga já afeta lavouras de cacau de países muito próximos, como Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. As autoridades brasileiras temem que se repita, agora, o que ocorreu no início da década de 1990. A vassoura-da-bruxa, que atacou de forma devastadora os pomares de cacau, no Sul da Bahia, rebaixou o País da posição de segundo maior exportador mundial de amêndoa, para a condição de importador. Na ocasião, foram encontraram mudas de cacau contaminadas em plantações da região, o que levou à suspeita do crime de agroterrorismo. “Com antecedentes como esse, é fundamental que o País se mantenha em alerta”, diz Danilo Coelho Alves de Souza, analista de bioterrorismo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).


Alerta: para Ribeiro, da Andef, é fundametal intensificar as fiscalizações nos aeroportos