Carlos Fava: o inventor do display de bananas para ponto de venda

O empresário e produtor Carlos Alberto Fava bem que pode se considerar uma espécie de “professor Pardal”, o inventor genial, nem sempre bem-sucedido, das histórias em quadrinhos da Disney. Em suas duas fazendas, de São Miguel Arcanjo e Lagoa, em Miracatu (SP), os 100 hectares são destinados à produção de bananananica. Anualmente, Fava colhe 50 toneladas do produto por hectare que vão direto para o centro de distribuição da empresa, a Agrocomercial Fava, em Jundiaí (SP). Porém, durante vários anos, o produtor amargou prejuízos no negócio. As vendas não chegavam aos números exatos que eram contabilizados com a produção. Culpa das perdas de frutas nas bancas dos supermercados. Há mais de 40 anos trabalhando no segmento de bananas climatizadas, Fava precisava melhorar os métodos e as técnicas para que seu produto se mantivesse com a mesma qualidade da colheita até a venda final. Até que surgiu uma ideia. Em 1997, o produtor tirou do papel seu invento: um display para o ponto de venda, no qual o cacho da banana fica pendurado em ganchos descartáveis, em vez de ser exposto nas bancas de frutas. A invenção conquistou adeptos e chegou às grandes redes supermercadistas. O “cabide” de banana consegue armazenar buquês com, no máximo, oito dedos de banana. “Nossa intenção foi criar uma forma para que os consumidores escolhessem com os olhos e não com as mãos, reduzindo os problemas ocasionados pelo manuseio”, diz Fava. “Afinal, não podíamos ficar pedindo aos clientes: ‘por favor, não mexa no produto’”.

Atualmente, pelo contrato com os revendedores, os fornecedores são responsáveis pelas trocas das mercadorias “perdidas”, ou melhor, deterioradas. Com o display, que se assemelha a um cabide, as perdas caíram de 20% a 25% para algo em torno de 5%. O sistema é simples, proporciona boa exposição e ventilação e melhor espaçamento para as frutas. “Da criação aos moldes, os investimentos chegaram a cerca de R$ 250 mil”, diz Fava. Segundo ele, além da redução das perdas, houve um bom incremento das vendas. A invenção deu tão certo que, hoje, Fava tem o produto patenteado e presença nas grandes redes de varejo, como Pão de Açúcar, Walmart e Sonda Supermercados.

No cabide: a técnica mantém a qualidade do produto

O exemplo de Fava não é um caso isolado – outros professores Pardais também foram bem-sucedidos com suas pequenas, mas oportunas, invenções funcionais. É o caso da Itaueira Agropecuária, de Fortaleza (CE). Em 2000, o diretor da empresa José Roberto Prado criou o “melão da redinha”. Mais do que uma proteção, o invento se tornou um método de identificação visual de qualidade dos melões produzidos e distribuídos pela Itaueira. “Depois que o funcionário aprendeu a selecionar a fruta pelo sabor, com base no critério que envolve a maturação ideal, a empresa partiu para essa diferenciação”, diz Prado. Com os slogans: “Estou maduro” e “Sou saboroso”, a empresa conquistou o gosto do freguês. “Hoje as pessoas já conseguem identificar que o melão mais saboroso é aquele que está na redinha”, afirma. O “melão rei”, como ficou conhecido, ganhou um visual nobre e se tornou o símbolo de fruta saborosa. Com isso, passou a ter valor agregado. “A fruta comum é vendida no mercado a R$ 2 o quilo. O nosso, a R$ 5” diz. Prado também apostou na paletização, que permite manusear o produto sem o machucar e faz o transporte do melão em carreta frigorífico. “A fruta não melhora mais o seu aspecto quando sai do campo”, afirma.

De acordo com Eduardo Benassi, diretor da Benassi Importação e Exportação, de São Paulo (SP), as embalagens cumprem funções básicas. Além de proteger os produtos de danos, permitem descolamento e armazenagem e, muitas vezes, servem como instrumento de incentivo à compra. A indústria usa largamente a embalagem como veículo de marketing, pois é por meio dela que o consumidor reconhece o produto. “É sempre importante lembrar que não há como mensurar as perdas das frutas. O que houve na realidade foi um aumento de consumo e uma redução de mão de obra para repor as perdas”, diz Benassi. “Sem dúvida, as inovações alavancam as vendas e fidelizam o consumidor.” Segundo o gerente-executivo do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Maurício de Sá Ferraz, de 30% a 35% da produção anual de frutas é descartada no País. Para ele, essas perdas estão relacionadas a problemas na cadeia logística, principalmente em decorrência do excesso de manuseio. A saída natural seria encontrar alternativas que possam reduzir o manuseio para o mínimo possível. “O ideal seria que a produção fosse embalada no campo, direto para o consumo final”, diz Ferraz.

Sensíveis e delicadas, as flores também são produtos que registram perdas significativas no caminho entre o produtor e o consumidor final. Foi pensando nesse mercado que a Polisul, de União da Vitória (PR), desenvolveu telas de proteção para flores e plantas ornamentais. Tudo começou há 12 anos, quando as redes plásticas para embalar frutas se estenderam para a floricultura. “Além da proteção, as telas proporcionam crescimento uniforme e durabilidade”, afirma Wilson da Silva, gerente comercial da Polisul. “Quando o produto sai do campo intacto para a venda, isso agrega valor”, diz. Comercializando aproximadamente dez toneladas de telas por mês, a empresa tem entre os principais clientes os produtores do município paulista de Holambra, maior polo produtor de flores do País.