24/07/2020 - 12:00
O período de inverno no Brasil, que começou em 20 de junho e se estende até o dia 22 de setembro, pode trazer consigo um aumento no número de infecções pelo novo coronavírus. Essa época do ano é tradicionalmente marcada pela sazonalidade de outros vírus respiratórios, como o da gripe, e o clima mais frio faz com que as pessoas adotem comportamentos que facilitam a transmissão. E em meio à retomada gradual das atividades em algumas regiões, é possível que tenhamos novos picos da covid-19 se as pessoas deixarem de lado as medidas de prevenção.
Quem fez um alerta sobre esse possível aumento de casos foi o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, na quarta-feira, 22. Ele, porém, acredita que esse incremento no número de contaminações não será acompanhado por mais registros de mortes. “Há uma realidade de aumento dos casos de contaminação agora, faz parte do inverno, da mudança social durante o inverno. Isso faz com que a contaminação aumente. Mas fica claro que a curva de contaminação aumentar não significa a curva de óbitos aumentar”, disse.
Segundo Airton Stein, pesquisador titular de saúde coletiva e epidemiologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), o novo coronavírus é transmitido da mesma forma que outros vírus respiratórios já conhecidos, e o inverno, de fato, é época propícia para o aumento de infecções. “As pessoas ficam mais em lugares fechados, onde não tem circulação de ar. Essa é a razão. É uma característica que todos os vírus respiratórios têm, de ocorrerem mais no inverno”, explica.
Ficar aglomerado em locais fechados é uma atitude totalmente contrária às recomendações de entidades globais de saúde para frear a propagação do novo coronavírus. A situação se agrava porque estamos em meio a uma pandemia para a qual ainda não há tratamento cientificamente eficaz nem uma vacina.
No entanto, muitos Estados brasileiros flexibilizaram as medidas de distanciamento social, o que aumentou a circulação de pessoas nas ruas e em estabelecimentos. Se o clima estiver frio, o mais comum é ver os ambientes internos com portas e janelas fechadas, um cenário que facilita o contágio.
Outro aspecto que pode viabilizar a propagação do vírus nessa época do ano é a umidade do ar, conforme explica Ana Gorini da Veiga, professora associada da UFCSPA que pesquisa infecções respiratórias virais. “Uma forma de transmissão do vírus é por gotículas que se expele ao falar ou tossir e a umidade mais alta faz o vírus durar mais tempo no ar, naquele ambiente.” Ela reforça que, segundo estudos, existe uma relação inversa entre temperatura e ocorrência de infecções: quanto mais alta a temperatura, menor o número de casos de infecção viral e vice-versa.
Dúvidas
Mas embora a ciência e os profissionais de saúde compreendam melhor agora a dinâmica do vírus do que no início da pandemia, ainda existem perguntas sem respostas. Não se sabe, por exemplo, como vai reagir uma pessoa que contrair o novo coronavírus e a influenza (vírus da gripe) ao mesmo tempo. “Não sabemos se o quadro vai se agravar e esse foi o intuito de ter adiantado a campanha de vacinação contra a gripe esse ano”, diz Juliana Cortines, professora do Departamento de Virologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os especialistas ouvidos pela reportagem concordam que esse aumento de casos no inverno pode trazer novos picos da covid-19 nos Estados, principalmente no Sul e Sudeste pela sazonalidade dos vírus respiratórios. Além disso, outro fator fundamental são as medidas de prevenção, como distanciamento social e uso de máscara, bem como a adesão da população a elas. Se não forem adotadas, a tendência é a de ver a curva subir.