27/07/2015 - 12:00
Para mobilizar a sociedade e chamar a atenção para as questões que envolvem a degradação do solo em todo o mundo, 2015 foi eleito pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Ano Internacional dos Solos. Parte fundamental do meio ambiente, a conservação do solo tem grande impacto também na manutenção e reserva da água potável do planeta.
Mas é preciso também atuar na recuperação dos solos degradados. Segundo estimativas da ONU, 30% das terras em todo o mundo têm alto ou médio grau de degradação, ou seja, essas áreas tiveram sua capacidade produtiva reduzida por ações naturais ou humanas, como erosão, impermeabilização, salinização ou poluição.
Além disso, a demanda mundial por alimentos e água crescerá cerca de 40% em 30 anos. Desta forma, se o mundo não investir na recuperação e conservação dos solos, terá que dar conta de uma demanda maior com menos áreas produtivas.
Isso sem contar o impacto que terá na oferta de recursos hídricos, uma vez que a erosão e o assoreamento de rios trazem consequências tanto para a população, que sofre com enchentes e falta d’água, quanto para a biodiversidade.
O aporte de sedimentos e nutrientes aos corpos d’água, fruto da erosão, além de obstruir o curso d’água, pode torná-la excessivamente rica em nutrientes, provocando o crescimento desequilibrado de espécies, com efeitos muito negativos para o ecossistema e para a qualidade da água. Para a agricultura, a perda de solo também é economicamente prejudicial, pois os nutrientes perdidos precisam ser repostos para que, ao longo do tempo, não ocorra perda de produtividade das lavouras.
Portanto, será preciso investir em tecnologias de produção, mais sustentáveis e diversificadas, que pensem a cadeia produtiva como um todo e em sua interferência no efeito estufa, no clima e na conservação de espécies.
Resumidamente, entendendo por desenvolvimento sustentável na agruicultura, o conceito proposto pela ONU, denominado Sustainable Agriculture and Rural Development (SARD), na conferência realizada em conjunto com o governo holandês em 1991, em Hertogenbosch: “o manejo e conservação dos recursos naturais e a orientação de mudanças tecnológicas e institucionais, de tal maneira a assegurar a satisfação de necessidades humanas de forma continuada para as gerações presentes e futuras. Tal desenvolvimento sustentável conserva o solo, a água e recursos genéticos animais e vegetais; não degrada o meio ambiente; é tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável”.
No Brasil, a discussão sobre recuperação dos solos está diretamente ligada à estratégia de enfrentamento das mudanças climáticas. Em 2012, o Governo Federal lançou o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura – Plano ABC – com objetivo de planejar e investir em ações para a adoção de tecnologias de produção sustentáveis e para responder ao compromisso de redução de emissão de gases do efeito estufa no setor agropecuário.
Composto por sete programas, o Plano tem metas ambiciosas como reduzir em 80% a taxa de desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado; ampliar a eficiência energética e diversificar suas fontes; promover a integração lavoura-pecuária; ampliar o uso do Sistema Plantio Direto (SPD) e da Fixação Biológica de Nitrogênio; e adotar intensivamente na agricultura a recuperação de pastagens degradadas, entre outras medidas.
Na atual conjuntura, em que a conservação e recuperação da água e do solo passam a receber investimentos, torna-se um bom campo de atuação para produtores rurais e profissionais especializados. E neste caminho, além do Governo, a Academia e entidades de pesquisa poderão trazer grandes contribuições.
Apostando nisso, o Prêmio Fundação Bunge, criado para incentivar as ciências, letras e artes, elegeu como um dos temas deste ano a “Recuperação de solos degradados para a agricultura” e dois profissionais serão homenageados pela relevância de seus trabalhos.