01/02/2008 - 0:00
No fim de dezembro, o empresário Eike Batista, dono de várias usinas termelétricas, recebeu uma multa de R$ 1 milhão porque suas geradoras estavam utilizando carvão não-certificado. Antes disso, duas siderúrgicas paraenses de ferro-gusa, a Cosipar e a Usimar, foram autuadas porque aqueciam seus fornos com carvão proveniente de madeira da Amazônia, o que levou a Vale a suspender o fornecimento de minério. Essa pressão ambiental, somada a grandes investimentos no setor siderúrgico, fez com que dois dos economistas mais talentosos do País – os irmãos José Roberto e Luiz Carlos Mendonça de Barros – vislumbrassem a oportunidade de um novo negócio. Juntos, decidiram criar um fundo para investir em projetos florestais. “Primeiro, teremos uma empresa de pesquisa em bioenergia e depois faremos os investimentos”, disse Luiz Carlos, que foi ministro das Comunicações no governo FHC e hoje é sócio da Quest, uma grande gestora de recursos. “Mendonção”, como ele é conhecido, não usou o termo bioenergia por acaso. O carvão mineral, proveniente do eucalipto, já é tratado pelos especialistas como o “biocombustível sólido”.
JOSÉ ROBERTO E LUIZ CARLOS: carvão de madeira desmatada dará lugar ao de reflorestamentos
Ao todo, o mercado brasileiro de carvão vegetal para siderúrgicas movimenta cerca de R$ 200 milhões por ano. É ainda pequeno porque muitas aciarias preferem utilizar o coque, de origem mineral, que não se encontra com facilidade no solo brasileiro e é importado. Aquelas que utilizam o carvão vegetal, proveniente da madeira, a compram de carvoarias clandestinas. “O insumo que hoje vem do desmatamento de florestas nativas, no futuro, virá de florestas reflorestadas”, diz Mendonção. Para desenvolver o fundo, os irmãos têm falado com gestores de private equity, que também estão interessados em investir em terras no Brasil, em projetos de longo prazo. Plantações de eucaliptos só estão maduras a partir do sétimo ano e podem ser utilizadas para duas finalidades: a produção de celulose ou de carvão, diluindo assim o risco do investimento. Um dos grandes entusiastas do setor florestal é o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que tem feito vários seminários sobre o tema. “É uma das maiores oportunidades do agronegócio brasileiro”, diz ele. Sinal de que o radar dos Mendonça de Barros está apurado.