17/06/2020 - 16:55
Monitoramento feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que as taxas de isolamento no estado não atingiram patamares considerados ideais para reduzir a propagação do novo coronavírus. No último dia 12, o estado registrou a menor taxa desde que as medidas restritivas começaram a ser adotadas. Apenas 38,2% das pessoas não se deslocaram.
A maior taxa de isolamento foi 64,1%, verificada no dia 22 de março, um domingo após a primeira semana de implementação de medidas como a suspensão das aulas, fechamento de teatros e cinemas, divulgadas no dia 13 de março. Esse pico não voltou a se repetir e, desde o final de maio, a taxa praticamente não passa de 50% nos finais de semana e próximo dos 40% durante a semana.
A taxa de isolamento ideal seria acima de 70%.Um estudo da Universidade Federal de Alagoas apontou em abril que, embora a referência mundial para controle da epidemia fosse de 70% de pessoas em distanciamento social e 30% expostas com a manutenção dos serviços essenciais, no Brasil, a taxa de 75% seria necessária para evitar mortes, principalmente, nas regiões onde o sistema de saúde é mais vulnerável.
“Do ponto de vista geral de comportamento, diria que isolamento social não existiu de fato. Existiu um comportamento muito elogiável de parte da população, que entendeu a gravidade da situação, se protegeu e protegeu o semelhante. Mas, no geral, não se percebeu esse isolamento”, diz o professor do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), Guilherme Horta Travassos.
Os dados fazem parte de um estudo conjunto realizado por pesquisadores da Coppe, do Núcleo de Computação Eletrônica e da Faculdade de Medicina da UFRJ. O isolamento social foi medido pela movimentação dos celulares em todo o estado. O dado mais recente mostra que, ontem (16), a taxa de isolamento foi 41,3%.
Retomada
No último dia 5, o governador Wilson Witzel autorizou, em decreto, a reabertura gradual da economia fluminense. A medida determina o funcionamento de alguns setores do comércio e da indústria em horários específicos para evitar aglomerações. Shoppings, bares, restaurantes, igrejas, estádios e pontos turísticos puderam abrir as portas mediante cuidados.
“É um momento de muita cautela”, diz Travassos, explicando que as consequências de uma maior circulação de pessoas só são percebidas cinco dias após a movimentação – quando começam a aparecer novos casos de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Isso porque as pessoas contaminadas ficam alguns dias sem apresentar sintomas.
“Em geral, a população não está entendendo a situação. Entende que o afrouxamento indica solução ou fim da epidemia, o que não é verdade. O momento é ainda de as pessoas ficarem em casa. Temos que continuar tomando atitudes de nos proteger e proteger o próximo, temos que estar atentos, usar máscaras”, alerta.
De acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES), o estado tem 83.343 casos confirmados e 7.967 mortes por covid-19. Há ainda 1.133 óbitos em investigação.
Em nota, a Secretaria de Saúde informa que tem acompanhado, por intermédio de seus técnicos, a evolução diária de indicativos que demonstram a tendência de redução da curva de contágio em virtude das medidas adotadas pelo estado. O órgão diz ainda que a taxa de ocupação da rede estadual para covid, atualmente, é de 57% para enfermaria e 64% para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Os dados foram enviados à Agência Brasil no último dia 15.
A secretaria acrescenta que o número de óbitos por data do evento vem apresentando queda desde o dia 18 de maio, assim como a taxa de incidência de casos no estado, que terminou o último mês com 109 casos para cada 100 mil habitantes. A pasta ressalta ainda que continua monitorando a taxa de contágio da doença para que não ocorra uma segunda onda de coronavírus.
Isolamento social no Rio não atingiu patamar ideal, diz pesquisa