Desde o dia 17 de outubro de 2008, data em que a Bolsa de Valores de São Paulo atingiu seu menor patamar histórico, o mercado financeiro nunca mais foi o mesmo. Antes vistas como um investimento altamente rentável, as ações, de uma hora para outra, viraram pó, com desvalorizações que em alguns casos ultrapassaram os 90%. Nem as companhias mais sólidas e rentáveis escaparam. Isto faz pouco mais de seis meses, tempo suficiente para que muitos desses papéis recuperassem parte de seu valor. No agronegócio, no entanto, a história foi bem diferente. Mesmo diante de um cenário internacional favorável, as ações têm se mantido estáveis, e num índice muito abaixo do real.

Mas, afinal, o que está acontecendo? Esta é uma pergunta que todos fazem, mas que ninguém é capaz de responder. Analisando as ações das oito principais empresas do setor listadas na Bovespa – Sadia, Perdigão, JBS Friboi, Cosan, Marfrig, SLC Agrícola, Laep-Parmalat e São Martinho – que juntas dominam mais de 90% dos papéis do agronegócio negociados na bolsa, percebemos que a desvalorização foi brutal, e agora estão, sem nenhum trocadinho, a preço de banana.

Hora de comprar o máximo possível e formar uma bela carteira, certo? Não necessariamente. A lei do mercado diz que o ideal é comprar as ações na baixa para poder vender, com lucro, na alta. O único problema é que ninguém sabe se já chegamos de fato ao fundo do poço. “Ao que tudo indica, o pior já passou. Neste momento, a tendência é de recuperação”, afirma Alcides Leite, professor de economia e mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios. Segundo ele, com a recuperação das commodities no Exterior, a expectativa é de recuperação das companhias ligadas ao agronegócio.

A verdade é que não existe muita lógica no mercado financeiro. Muito menos em um momento turbulento como este. Um bom exemplo é a Sadia. Empresa líder de mercado no Brasil, tinha suas ações cotadas a R$ 14,30 a menos de um ano. Hoje, seus papéis não valem nem R$ 3. Problemas com derivativos são parte da história, mas não justificam uma queda de quase 70% em seu valor de mercado. Especulações em torno de uma fusão com a Perdigãofizeram com que as ações da empresa comandada por Luiz Fernando Furlan se valorizassem um pouco, mas nada que animasse os investidores.

Segundo especialistas, o pior já passou; por isso o momento é bom para investir no mercado financeiro

Mesmo companhias tidas como modelo de gestão, como a JBS Friboi, maior processadora de carne do mundo, sofreram o impacto da crise. Antes negociadas a R$ 10,30, suas ações agora valem menos da metade disso: R$ 4,90. Mas ninguém sofreu mais com a crise do que a Laep, controladora da Parmalat. Nos últimos 12 meses, suas ações variaram entre R$ 6,29 e R$ 0,21, uma oscilação de 93,16%. Nos últimos seis meses, no entanto, os papéis se estabilizaram na casa dos R$ 0,40, mas ainda existe um potencial enorme de recuperação. Ao menos é o que esperam os analistas e, principalmente, os investidores. “Este é um bom momento para se investir, pois as ações tendem a crescer ao longo dos próximos meses. O importante é ter calma, pois este é um investimento de longo prazo, que pode levar dois ou três anos para dar retorno. No curto prazo, este ainda é um investimento perigoso”, completa Alcides Leite.

LADEIRA ABAIXO Ações das principais empresas do agronegócio seguem em baixa. Confira o desempenho dos papéis nos últimos meses