Com o maior rebanho bovino comercial do mundo e um território de proporções continentais, o Brasil acaba enfrentando um grande desafio na logística de transporte destes animais: o tempo e a distância.

É nesse cenário que a TRS, transportadora do grupo JBS de propriedade dos irmãos Wesley e Joesley Batista lançou o aplicativo Uboi, popularmente conhecido como “Uber do boi”. A ideia é que a ferramenta funcione de maneira semelhante ao aplicativo de transportes da Uber, mas com os bovinos como passageiros.

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A tecnologia não é bem uma novidade no agro. Existem empresas que oferecem transporte de cargas, como grãos e insumos. A diferença do aplicativo da JBS  é o foco na pecuária, que demanda maiores cuidados para o transporte dos animais.

O volume de abates no Brasil gira em torno de 35 a 40 milhões de cabeças anualmente. Para cada bovino abatido, ocorrem pelo menos dois transportes: o primeiro é do local de nascimento até onde serão engordados e depois do local de engorda até o abatedouro. Com isso, o potencial do nicho de transporte de gado chega a 70 a 80 milhões de movimentações anuais, considerando apenas essas etapas principais.

Com o aplicativo pecuaristas de todo o Brasil podem solicitar transporte para seus animais entre fazendas ou com destino a frigoríficos. Plataforma surgiu em 2020 com um investimento aproximado de R$ 1 milhão. Hoje em dia a frota da TRS disponível para o app conta com aproximadamente 800 caminhões com motoristas contratados pela empresa.

Frota do Uboi (Divulgação)

Sobre o nome da ferramenta e a semelhança com a Uber, Márcio Salaber Pereira, diretor da TRS explicou em entrevista à Dinheiro Rural que o objetivo do nome da plataforma é transmitir confiança e credibilidade para os clientes, algo que segundo ele a empresa de transporte por aplicativos já tem consolidada.  “Não foi uma sinergia direta, mas fortaleceu muito, até para poder ficar algo simplista para o usuário na ponta”.

No início as operações foram restritas apenas a São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Vale do Araguaia, em Mato Grosso. Agora disponível em todo país, a empresa aponta que já realizou mais de 93 mil viagens nos últimos 5 anos.

Como funciona o Uboi?

O aplicativo foi projetado para atender a diversos perfis de pecuaristas, desde os maiores que costumam movimentar milhares de cabeças de gado até os que farão uma única viagem dentro de sua própria propriedade.

É possível transportar desde bezerros, animais jovens, animais adultos, machos, fêmeas,  conforme a necessidade da cadeia.

Por razões de segurança o indicado é que os transportes sejam realizados com um volume significativo de animais, minimizando lesões no trajeto.

“Não existe um mínimo, mas se você transportar menos animais do que é o ideal, por exemplo, se eu transportar somente dois animais em um caminhão, eu tenho que ter uma condição exclusiva para isso, porque pode ser que no andar os animais se desequilibrem e se machuquem”, explica o diretor da TRS.

Os veículos da empresa conseguem transportar até 50 animais. De acordo com Salaber, essa capacidade representa uma evolução significativa em relação aos modelos anteriores.

Chamando o Uber do boi

O primeiro passo para conseguir realizar o transporte dos animais via Uboi é baixar o aplicativo, mas muitos pecuaristas preferem o WhatsApp para realizar a contratação, segundo o diretor da TRS, já que a ferramenta é multicanal.

A partir do primeiro contato os usuários devem informar onde o embarque será realizado e qual o destino. A seguir é necessário informar as características do animal como gênero e peso aproximado.

Na sequência a plataforma direciona o equipamento correto e dimensiona a capacidade correta de locação do veículo.

A cotação de preço e dada por região, perfil do animal, acesso (tipo de estrada), tempo de viagem. A plataforma pode sugerir datas para otimizar o caminhão e reduzir o preço para o cliente.

Os caminhões são monitorados durante todo o serviço com previsão de embarque e desembarque além do tempo de viagem entre os locais.

*A IstoÉ Dinheiro Rural procurou a Uber para comentar, mas não obteve retorno

*Estagiário sob supervisão