Tradição: as biojoias pantaneiras são feitas por Verhuska Tameiros (à esq.) e Isabel Muxfeldt (à dir.)

A frase “não há artesanato sem cultura” parece feita sob medida para Mato Grosso do Sul. É nesse rincão do País que os sábios da arte popular produzem riquezas a partir de uma das principais fontes de renda do Estado: o boi. Além do couro, o chifre também é reaproveitado em objetos que não se limitam ao tradicional berrante. Foi inspiradas nessa arte que a empresária e artesã Isabel Doering Muxfeldt e a designer Verhuska Pereira Tameiroscriaram as biojoias, peças exclusivas para o público feminino. Nascia assim, em 2002, a marca Joias do Pantanal. “Antes, fazíamos um artesanato muito rudimentar, uma cópia do que já existia”, diz Isabel. “Eu estava em busca de algo novo. Mas foi da boa amizade com a Verhuska que nasceu o trabalho com os chifres.” Algumas biojoias produzidas com esse material também levam outro produto regional, o trançado pantaneiro, uma espécie de trança feita com fios de algodão e de couro. Os peões a utilizam na confecção de arreios para os cavalos. “Foi pelas mãos de um peão que Verhuska aprendeu a técnica”, diz Isabel.

E é das mãos habilidosas de um grupo de artesãos-parceiros que saem as peças, que vão das mais simples, como acessórios para cabelos e chaveiros, às mais sofisticadas, como os colares e os brincos. As empresárias criaram uma linha de montagem artesanal na qual as biojoias são confeccionadas e lapidadas por cortadores dos chifres, que trabalham em suas residências a partir dos desenhos elaborados por Verhuska. O trabalho, minucioso e delicado, começa a ganhar forma depois de três etapas: o primeiro passo é esquentar o chifre para que amoleça. Em seguida ele é moldado. Depois é aplicado um produto especial para evitar que o pedaço utilizado volte ao formato original.

Mesmo manipulando uma matéria- prima que muitas vezes é tratada como lixo, existe por parte das artesãs o cuidado de evitar o desperdício. “Das pontas dos chifres saem os anéis”, diz Verhuska. “A partir do meio criamos outros objetos maiores, como as pulseiras.” Segundo a designer, a matéria-prima principal sempre é o chifre bovino, mas algumas peças recebem um toque especial, com aplicações de fios de algodão, aço inoxidável, fios de couro, folheados de ouro e pérolas de água doce, entre outros materiais. “Ao agregar um novo design, produzimos peças tão exclusivas quanto a natureza pantaneira”, afirma. Apesar da mistura de elementos, o resultado final não perde sua identidade e originalidade. Para a artesã, o trabalho não modifica a técnica de manuseio do chifre, e sim o design do produto. “Preservamos a cultura local e criamos moda artesanal”, diz Verhuska. Entre as peças, as mais requisitadas são colares, brincos, anéis e pulseiras.

Diversificação: uma simples matériaprima que se transforma em objetos sofisticados

Isabel lembra que, no início, a maior dificuldade foi fazer com que os homens, que detinham o conhecimento da técnica do manuseio do chifre bovino – uma atividade essencialmente masculina – aceitassem a ideia de trabalhar para uma mulher que queria confeccionar peças femininas. “A solução veio por convencimento para a produção das primeiras peças”, diz Isabel. Para ela, foi decisivo para o início da produção das biojoias a aceitação de Eteir Rondon, um artesão da região. Vencido o preconceito, surgiu um segundo problema: a baixa qualidade das peças.

Começava aí um aprendizado coletivo, desde o início, baseado na orientação contínua e na persuasão.

O negócio das amigas ganhou cunho ecológico e social, à medida que recupera um material descartado e utiliza mão de obra local, detentora do conhecimento da técnica de moldagem do chifre, além de proporcionar o aumento da renda familiar de pequenos artesões. Em dois anos, de 2004 a 2006, as empresárias dobraram a produção, passando de duas mil para 4,4 mil peças. “Usamos um subproduto adquirido em frigoríficos da região, que pode substituir o plástico e o acrílico”, diz Verhuska. Essa é a ideia central da biojoia”, diz Isabel. E há a conotação de exclusividade. “Afinal, cada peça é única.”

Os produtos são comercializados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e também começaram a ser vendidos no Exterior. Hoje, as peças são enviadas para Espanha, Suíça, Grécia e Estados Unidos. As biojoias custam entre R$ 15 e R$ 300.

Serviço:

Joias do Pantanal

Tel.: (67) 3326-6583

www.joiasdopantanal.com.br