01/01/2010 - 0:00
Com um modelo de negócio eficiente, pequenos agricultores
colombianos garantem a produção e a exportação do melhor café do mundo
O cara: Juan Valdez simboliza o produtor colombiano em ações de marketing por todo o mundo
Eficiente, organizado e, principalmente, lucrativo. Assim é o modelo de negócios praticado pelos cafeicultores colombianos, colegiados em torno de uma marca e, por que não dizer, de um rosto. Esse é o café Juan Valdez, um dos principais patrimônios culturais e econômicos daquele país. Reza a lenda que, até o século XIX, toda casa colombiana deveria ter pelo menos um pé de café para garantir o consumo da família. Anos se passaram e a tradição continua mantida, porém, agora de uma forma muito mais profissional. Hoje, existem mais de 500 mil pequenos produtores de café na Colômbia, que seguem produzindo da mesma forma artesanal aprendida com seus ancestrais, não mais para consumo próprio, mas, sim, para abastecer o crescente mercado de cafés de alta qualidade em países como os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão.
Segundo dados da Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia, principal entidade representativa do setor no país, a produção total alcançou a marca de 11,5 milhões de sacas em 2008, 90% deste montante destinado à exportação. No entanto, diferentemente do Brasil, onde predominam as grandes fazendas, 95% deste café é proveniente de agricultores familiares, donos de áreas que variam de meio a cinco hectares. Assim, a única forma de tornar o negócio viável aos cafeicultores é operando como uma cooperativa – e é exatamente esta a fórmula do sucesso colombiano.
Diferenças: o personagem que representa Juan Valdez com o presidente colombiano, Álvaro Uribe. No jipe, a produção é vendida ao governo, enquanto lojas sofisticadas crescem pelo mundo
Para proteger os produtores contra os baixos preços pagos pelos atravessadores, a própria federação garante a compra do café a um preço mínimo pré-fixado. Se encontrar alguém que pague mais, o vendedor está livre para negociar. Caso contrário, vende à “cooperativa” pelo preço mínimo. Depois, toda a produção é processada e se transforma no famoso “Juan Valdez”, um café com alto valor agregado destinado basicamente ao mercado externo. Hoje, a marca Juan Valdez representa a garantia de um produto 100% “made in Colômbia” – onde quer que se esteja.
“Nossa preocupação é com o produtor, não com o exportador”, explica Luis Fernando Samper, diretor da Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia. “Existe a garantia de compra por parte do governo, que fixa um piso – hoje cotado a US$ 325 a saca – e, caso o produtor não encontre alguma empresa que lhe pague mais, tem a opção de nos vender”, continua o executivo. Para se ter uma ideia do que isso significa, no Brasil, onde não existe nenhum tipo de incentivo aos produtores de café, a saca está cotada a pouco mais de US$ 160.
Cultivados em regiões de altitude, aos pés da Cordilheira dos Andes, os cafezais locais possuem características próprias que garantem suavidade e baixos níveis de acidez aos grãos. Ao lado de outros países como Etiópia e Zaire, o país produz um dos mais cobiçados e apreciados grãos do mundo. Além disso, o clima temperado possibilita a colheita e o fornecimento dos grãos durante todo o ano. Por outro lado, seu escoamento é difícil e possível apenas através de jipes improvisados ou no lombo de mulas, como antigamente. Para amenizar a situação, a federação vem investindo mais de US$ 1 milhão ao dia em benfeitorias como estradas, capacitação e recuperação de áreas degradadas. Tudo com dinheiro vindo dos tributos pagos pelos produtores, chamado Fundo Nacional do Café.
“Na Colômbia, o café não é importante apenas economicamente, mas também socialmente. Onde não há café, há mais problemas sociais”, garante Samper, lembrando que parte da verba também é investida em segurança e na educação dos filhos dos produtores. “Além disso, investimos cerca de US$ 50 milhões ao ano apenas em publicidade, pois temos a missão de zelar pela boa imagem do café colombiano”, completa.
No Brasil, enquanto isso, o setor passa por um momento de certa forma delicado. O problema não está no preço em si, mas no câmbio.
Os tratos culturais, tão necessários para o bom desenvolvimento das lavouras, têm sido feitos com o dólar mais apreciado que na época da comercialização. Por essa razão, apenas as grandes empresas, que possuem ferramentas para travar custos, conseguem bons lucros com suas lavouras. “O café colombiano é muito bom, mas melhor que ele é o trabalho feito pelos representantes do setor”, afirma Almir Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), que diz ser importante uma organização maior do setor no Brasil.