08/06/2017 - 13:16
É louvável o esforço do governo em promover um corte das despesas e realizar reformas, como a da previdência e a trabalhista, há muito reclamadas pela sociedade. Nesse cenário, contudo, há um paradoxo: a Selic ainda elevadíssima, apesar de sua paulatina redução. Como uma das principais causas dos juros altos é exatamente o desequilíbrio fiscal, ao manter taxas altas, o Comitê de Política Monetária (Copom) sugere, mesmo que da maneira mais sutil possível, que nem mesmo as autoridades econômicas acreditam com firmeza na capacidade de se promover o equilíbrio entre receita e despesas da União.
Tal desconfiança é justificável, pois se sabe que os juros no Brasil têm sido reféns do problema fiscal. Com o Estado gastando muito, é difícil reduzi-los, pois os papéis que fazem a dívida pública girar no mercado financeiro precisam de remuneração atrativa, sob pena de a União não conseguir manter-se adimplente. Acontece que a Selic reflete-se no rol das despesas, engrossando o déficit nominal. Não há milagre em contabilidade. Assim, se não se confia piamente na nova política fiscal, não se baixam as taxas da verdadeira “agiotagem” que o governo pratica contra ele próprio, as empresas, as famílias endividadas e a economia.
Além dessa contradição, que custou mais de R$ 500 bilhões em 2015, em juros aos cofres públicos, não há qualquer sentido em se manter taxa de 11,25% ao ano, num país com mais de 14 milhões de desempregados, com queda de mais de 7% do Produto Interno Bruto (PIB), acumulada em dois anos, que ainda não saiu da recessão e que, portanto, precisa, a todo custo, voltar a crescer. Na atual conjuntura, é inútil segurar a Selic num patamar elevado, pois a inflação já dá sinais de convergência para valores abaixo até da meta oficial, enquanto os danos à economia, às empresas e aos trabalhadores serão cada vez mais graves. Reforçando, é possível constatar como o juro alto deixou um verdadeiro desastre para as contas públicas: em 2013, o governo pagou quase R$ 250 bilhões em juros, e em 2015, mais de R$ 500 bilhões. Sempre que a Selic sobe, o custo da dívida pública cresce, os investimentos produtivos diminuem e aumentam a especulação financeira e o desemprego. É uma equação matemática irrefutável, cujo resultado é um ciclo pernicioso, do qual o Brasil precisa livrar-se. Porém, não terá sucesso nessa meta se continuar praticando o juro real mais alto do mundo.
Todos esses problemas, testados no laboratório real da economia e da história de nosso país no presente século, evidenciam que a União Europeia, o Japão e os Estados Unidos agiram de modo correto, conseguindo retomar o crescimento, após o grande crash de 2008, adotando baixas taxas de juros. Não apenas isso, mas também colocando mais moeda em circulação, aquecendo o nível de atividade e gerando empregos. Tal política permitiu uma retomada da atividade econômica, movimento inverso ao que ocorre no Brasil, em que a demora da queda dos juros dificulta o combate à crise.
Para o agronegócio, que contou com um início de 2017 bastante favorável, a queda dos juros também seria muito benéfica. Vários segmentos atrelados ao setor mostraram relevante recuperação em 2016, como o de insumos agropecuários. Deve-se considerar, ainda, que algumas atividades que vinham sofrendo havia algum tempo, tiveram um excelente 2016. São elas, a sucroalcooleira, a citrícola e a cafeeira, com exceção para a variedade conilon. A tendência é que o bom desempenho repita-se este ano, mas uma Selic menor ajudaria muito o setor.
Baixar os juros de modo mais agudo, mais do que um estímulo à economia, seria um gesto do governo que aumentaria ainda mais a sua credibilidade perante o empresariado e a sociedade. Seria uma sinalização de que há confiança na política econômica, na capacidade de se conquistar o equilíbrio fiscal e na efetividade das reformas em curso. Com as taxas nas alturas, seguimos acreditando nas medidas que vêm sendo adotadas, mas com inevitável dose de ceticismo e a certeza de que a recuperação será muito mais lenta e sofrida.