A expressão “quem planta, colhe”, embora seja uma indiscutível verdade popular, não explica tudo – nem sintetiza com precisão – a rotina do agronegócio brasileiro. Nos últimos anos, diante da necessidade de reduzir custos, aprimorar os processos de gestão das lavouras e aumentar a rentabilidade dos produtos agrícolas, a frase mais apropriada talvez seria “quem empresta, planta. Quem planta, colhe”. Não por acaso, a recente trajetória de queda na taxa básica de juros, a Selic, para 7,25% ao ano, o menor patamar da história, irriga de otimismo o campo brasileiro. “Quando a agricultura vai bem, a economia anda melhor e o cresci mento do País vem na esteira”, diz o diretor corporativo da Randon, fabricante gaúcha de implementos rodoviários, Astor Milton Schmitt. “O corte dos juros plantou uma nova semente no agronegócio, que responde por 40% de nossas vendas, e já estamos notando um forte aquecimento da demanda.”

Essa primeira semente que germina em terras de juros baixos é o Programa de Sustentação do Investimento, chamado de PSI-BK. Trata-se de uma linha de crédito rural com juros reduzidos de 2,5% ao ano para financiar a compra de bens de capital, como tratores, equipamentos para irrigação e armazenagem, implementos para transporte e manejo das lavouras, além de uma extensa lista de ferramentas para a atividade rural. A generosa taxa de juros – que é negativa quando se desconta a inflação – é uma espécie de promoção-relâmpago anunciada pelo governo federal. Vale apenas entre 1º de novembro e 31 de dezembro. Até então, o PSI-BK cobrava 5% ao ano, o dobro da taxa atual. “O Conselho Monetário Nacional baixou a Resolução 4141 para turbinar a indústria do agronegócio nos últimos dois meses do ano, ajudando a fomentar um setor que é de extrema importância para o PIB”, afirma João Claudio da Silva Souza, coordenador de políticas setoriais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A julgar pelo apetite de crédito dos produtores rurais, não será por falta de financiamento que o agronegócio deixará de crescer. Entre 1º de julho e 31 de outubro deste ano, o PSI-BK emprestou R$ 2,5 bilhões para a compra de máquinas e equipamentos, ainda com juros de 5% ao ano. A cifra é cerca de 20% superior ao mesmo volume do ano passado. Outros R$ 3,5 bilhões estão à espera de novos pedidos de empréstimo. “Não temos dúvidas de que o abatimento de 50% nos juros será um motor para a concessão de novos financiamentos”, diz Souza, do Mapa. Desde que foi lançado, em agosto de 2009, o PSI-BK já emprestou R$ 17,9 bilhões. 

Mesmo sem o empurrão do PSI-BK, o mercado de crédito agrícola vinha em ritmo aquecido. Somadas todas as linhas de financiamento voltadas a produtores rurais, as contratações de crédito neste ano estão mais altas do que em 2011. Os contratos de empréstimos não passaram de R$ 26,5 bilhões na safra passada, montante que representa apenas 23% dos R$ 115,2 bilhões programados para o ano-safra 2012/2013.

Além de impulsionar o componente industrial do agronegócio, o PSI-BK tende a impulsionar pequenos produtores de equipamentos voltados ao campo. É o caso da Pivot Equipamentos Agrícolas, de Cristalina, em Goiás. A empresa pretende superar as vendas do ano passado graças aos incentivos dos juros reduzidos. “A agricultura e a pecuária são dependentes de crédito assim como a grande maioria das atividades econômicas”, diz Renato Trindade, coordenador de estudos agrícolas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. “E quando há incentivos de redução de juros, como a que estamos presenciando agora, as empresas menores são especialmente beneficiadas pela aceleração conjuntural de todo o setor.”