Os contratos de DI caíram em toda a curva nesta quinta-feira, 4. Nos trechos médios e longos, o recuo chegou a superar os 13 pontos-base, refletindo o temor de uma crise bancária nos Estados Unidos. A ponta curta mostrou queda menor, em torno de 2 pontos-base, após o Comitê de Política Monetária (Copom) ter sugerido, ontem, 3, pouco espaço para corte da Selic no curto prazo.

Na comparação com o ajuste de ontem, a taxa do DI para janeiro de 2027 caiu 12,7 pontos-base, de 11,647% para 11,520%, a maior queda entre os contratos mais líquidos. O DI para janeiro de 2029 recuou de 11,956% para 11,890%, enquanto o contrato para janeiro de 2025 caiu de 11,884% para 11,780%. Na ponta curta, o DI para janeiro de 2024 recuou de 13,239% para 13,215%.

Profissionais do mercado ouvidos atribuem a queda contida das taxas curtas ao tom do comunicado do Copom de maio, que manteve a taxa Selic em 13,75% pela sexta reunião consecutiva. No texto, o Banco Central destacou que terá “paciência e serenidade” na condução da política monetária, o que sugeriu aos agentes de mercado que não há espaço para corte dos juros nos próximos meses.

Após a decisão, instituições do mercado como Bank of America (BofA) e G5 Partners postergaram a expectativa de início do ciclo de cortes – de maio e junho, respectivamente – para agosto. Pesquisa do Projeções Broadcast mostra que 49 de 52 casas esperam manutenção da Selic em 13,75% na próxima reunião do Copom, em junho. A mediana do levantamento continua indicando queda dos juros a 12,5% no fim de 2023.

“As mudanças foram menores na parte curta da curva de DI, porque não houve grandes novidades no comunicado do Copom”, avalia o economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício de Lemos Rosal. “O BC basicamente reforçou a ideia de que, independente do que aconteça, não tem razão para mudar a estratégia de política monetária se a desancoragem das expectativas de inflação não se reverter.”

Apesar da avaliação dos economistas, os DIs passaram a precificar mais cortes da Selic este ano. Nas contas do estrategista-chefe do Banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, a curva de juros embutia, por volta de 17 horas, redução da Selic a 12,33% no fim de 2023, 7 pontos-base abaixo da precificação de ontem (12,40%). As probabilidades de redução dos juros subiram nas reuniões de junho (24% para 28%) e agosto (72% para 76%).

Nos trechos intermediário e longo da curva, o temor de recessão e de uma crise bancária nos Estados Unidos puxou as baixas dos contratos de DI. Após o desfecho do First Republic Bank, vendido ao JPMorgan no início da semana, especulações sobre o futuro de Western Alliance, PacWest e First Horizon reforçaram os temores de novas quebras no setor financeiro.

“Lá fora, a preocupação com os bancos de países desenvolvidos acabou levando a uma queda das commodities, e a diminuição de ritmo pelo BCE acabou sendo interpretada como um chancelamento da visão de que esses problemas estão piorando a perspectiva de crescimento dos países desenvolvidos. Isso acabou fazendo os juros recuarem aqui, apesar de um tom ainda hawkish do BC”, avalia Rostagno.