Os juros futuros avançaram nesta segunda-feira, 22, com altas nos trechos curto e intermediário e leve baixa no trecho longo, o que levou a uma ampliação da inclinação negativa da curva. As taxas domésticas acompanharam as altas dos rendimentos dos Treasuries, em meio à percepção de que o Banco Central brasileiro e o Federal Reserve (Fed), dos EUA, podem manter os juros altos por mais tempo.

Na comparação com o ajuste anterior, o DI para janeiro de 2025 subiu 6 pontos-base, de 11,695% para 11,755%, acompanhado pelos DIs para janeiro de 2027 (11,319% para 11,320%) e janeiro de 2024 (13,301% para 13,10%). O DI para janeiro de 2029 recuou pouco mais de 1 ponto-base, de 11,661% a 11,650%. O spread entre os contratos para janeiro de 2025 e janeiro de 2029, principal métrica de inclinação da curva, recuou de -3,4 a -10,5 pontos-base.

O comportamento das taxas domésticas seguiu as altas dos Treasuries americanos, que avançavam entre 2,5 e 7,3 pontos-base no fechamento do mercado brasileiro, puxados pela incerteza em torno de um acordo para elevar o teto da dívida dos EUA e por declarações de dirigentes do Fed. O presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, defendeu mais dois aumentos de juros este ano.

No noticiário brasileiro, a palestra do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em seminário organizado pela Folha de S.Paulo foi o principal motor para a alta das taxas. O chefe da autarquia repetiu que os núcleos do IPCA continuam em nível alto e defendeu que as expectativas de inflação do mercado continuam pressionadas por incertezas em torno das metas e da política fiscal, além dos ruídos entre governo e autoridade monetária. Campos Neto disse ainda que um aumento da meta, como advoga parte do governo, “não traria flexibilidade” à política monetária.

“Nas últimas semanas, os juros locais descolaram do exterior com os investidores apostando que a deflação no atacado poderia mover o Copom na direção de um discurso mais dovish, mas isso não está acontecendo, porque os discursos de Campos Neto na sexta-feira e hoje vão na direção contrária. Nesse ambiente, é natural que quem estava apostando na queda dos juros reduza ou zere sua posição”, diz o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

Pesquisa relâmpago feita pelo Projeções Broadcast com 40 instituições mostra que a maior parte do mercado (30%) espera início do ciclo de cortes da Selic em agosto, enquanto dez (25%) preveem cortes dos juros a partir de setembro e outras dez, em novembro. A mediana do mercado sugere queda da taxa básica de juros a 12,5% no fim de 2023 e a 10% no fim de 2024, em linha com as estimativas intermediárias do último relatório Focus.

Para o economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Lemos Rosal, a alta dos juros domésticos e americanos reflete a percepção de taxas altas por mais tempo. “Bullard botou na mesa a possibilidade de mais duas altas de 25 pontos e, aqui, a apresentação de Campos Neto insinuou que as condições necessárias para corte da Selic estão longe de serem colocadas”, afirma.

Na penúltima hora de negócios, declarações do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, levaram a uma desaceleração do ritmo de alta dos juros futuros e chegaram a impor viés de queda aos DIs longos, pela redução da incerteza fiscal. O movimento foi revertido pela aceleração do ritmo de alta dos rendimentos dos Treasuries, mas voltou a aparecer nos últimos minutos de negócios, o que levou a uma baixa do DI para janeiro de 2029.

Em entrevista coletiva, Ceron disse que a autorização no arcabouço fiscal para que os gastos do governo cresçam 2,5% acima da inflação em 2024 representa uma diferença de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões, abaixo dos R$ 80 bilhões estimados por instituições do mercado financeiro. Também repercutiu positivamente a previsão de ganho de arrecadação de R$ 50 bilhões com a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que proíbe a dedução de subsídios do ICMS sobre o IRPJ e o CSLL.