Os juros futuros fecharam o pregão desta terça-feira, 16, em alta, mais intensa nos trechos intermediário e longo, em um dia de realização de ganhos após a queda das taxas nas últimas semanas. A redução do apetite global por risco em um dia de surpresas negativas com dados de atividade da China e Estados Unidos e a avaliação de que o novo arcabouço fiscal foi menos endurecido do que o esperado favoreceram a abertura da curva.

Na comparação com o ajuste desta segunda-feira, 15, o DI para janeiro de 2029 avançou 11,2 pontos-base, de 11,448% para 11,560%, em linha com as altas do DIs para janeiro de 2027 (11,153% para 11,260%), 2025 (11,667% para 11,730%) e 2024 (13,303% para 13,310%). O spread entre os contratos para janeiro de 2025 e janeiro de 2029, principal métrica de inclinação, passou de -21,9 pontos-base para -17 pontos-base.

A aversão ao risco deu a tônica do ambiente de negócios nesta terça-feira, após uma leva de dados econômicos dos EUA sugerir pouco espaço para que o Federal Reserve (Fed) comece a cortar juros em breve. A produção industrial do país cresceu 0,5% em abril ante março – acima da mediana dos analistas consultados pela FactSet (0,0%) -, enquanto as vendas do varejo avançaram 0,4% na margem, abaixo do consenso (0,8%).

Os rendimentos dos Treasuries operaram em alta ao longo do dia, pressionando as taxas domésticas. O fortalecimento global do dólar diante da perspectiva de uma política monetária apertada por mais tempo nos EUA levou a moeda americana a encerrar o dia com ganho de 1,12% em relação ao real, cotada em R$ 4,9428, o que também favoreceu o avanço dos DIs longos.

“Os dados sugeriram que o BC americano não deve ter espaço para cortar juros este ano, conforme o mercado vem precificando, e isso levou a um ajuste, com a T-Note de dois anos subindo por lá”, diz o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno. “Os dados econômicos piores na China também reduzem o apetite por ativos de países ligados a commodities, o que acaba aumentando o prêmio na parte longa da curva.”

No front doméstico, investidores passaram o dia avaliando o substitutivo do projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal, divulgado pelo deputado Cláudio Cajado (PP-BA) no início da madrugada. O texto atendeu a preocupações do mercado ao manter os relatórios bimestrais de monitoramento das despesas e receitas e a possibilidade de contingenciamento do Orçamento, mas foi lido como menos restritivo do que o esperado.

Para agentes do mercado, uma das principais preocupações é que o contingenciamento das despesas não vai atingir a política de valorização real do salário mínimo e o pagamento do Bolsa Família, preservados no relatório final. Economistas também alertaram que o texto diminuiu as restrições para o crescimento dos gastos no curto prazo ao determinar uma alta real de 2,5% para 2024, no teto dos limites da regra.

“Com a PEC da transição, que inflou a base de gastos e as despesas discricionárias para um patamar muito elevado, essa proposta dá ao governo uma capacidade de expansão de gasto nesse ciclo político, até 2026, que é praticamente inédita desde que tivemos a Lei de Responsabilidade Fiscal”, afirmou o sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall em entrevista ao Broadcast.

Para a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patrícia Pereira, a falta de mecanismos de controle mais fortes no relatório do arcabouço aumentou o risco fiscal e explica o movimento de abertura da curva na sessão, sobretudo nos trechos mais longos. Para a analista, a falta de punições mais severas em caso de descumprimento das metas também pesou sobre o movimento dos juros.

“O aumento do prêmio de risco para 2029 tem a ver com uma deterioração institucional, porque você trocou a regra do teto de gastos, que mantinha alguma rigidez, e as travas previstas hoje deixam muito na discricionariedade do Executivo. E a gente sabe que o governo atual não vai usar a discricionariedade para ser mais austero”, afirma a analista.

Neste cenário, a redução dos preços de combustíveis anunciada pela Petrobras – de R$ 0,40 no litro de gasolina A, R$ 0,44 no litro do diesel tipo A, e R$ 0,69 no quilo do GLP – acabou não tendo impacto nos DIs, apesar do seu caráter desinflacionário.