A manutenção do apetite pelo risco no exterior, sustentada pela perspectiva de vitória de Joe Biden na eleição presidencial americana com forças políticas equilibradas no Congresso, sustentou os juros futuros em baixa durante toda a sessão. Os mais longos foram os que mais caíram e, assim, a curva desinclinou um pouco mais em relação a ontem. Internamente, o noticiário e a agenda foram fracos, mas, em compensação, teve leilão de títulos do Tesouro, com demanda quase integral pelos papéis, ainda que as taxas tenham sido mais altas que na operação anterior, e aumento da oferta de prefixados longos. A sessão regular encerrou antes da divulgação do comunicado do Federal Reserve e na reabertura dos negócios, na etapa estendida, as taxas ensaiavam uma realização de lucros.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 chegou ao fim da sessão estendida a 3,45%, de 3,645% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2023 terminou em 5,03% (5,066% ontem) e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 6,125% para 6,06%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,43%, de 7,55%.

Patricia Pereira, gestora de renda fixa da MAG Investimentos, afirma que todos os ativos reagiram à vantagem de Biden na disputa, que ainda não teve o esperado desfecho. “A tese é de que a vitória democrata torna os emergentes mais atrativos e aprofunda o déficit fiscal americano, por prover mais estímulos”, afirmou, considerando um cenário de maior depreciação do dólar e juros baixos.

O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, lembra que a falta de novidades internas também contribuiu para o bom desempenho da curva, permitindo que o mercado olhasse mais para o exterior positivo. “Reforça a influência do câmbio”, afirmou.

Nesta sexta-feira, porém, o quadro local pode voltar a testar o bom humor dos agentes. Logo na abertura da sessão será conhecido o IPCA de outubro, que deve acelerar fortemente ante setembro (0,64%). A mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast aponta taxa de 0,84%, com a de 12 meses saltando de 3,14% para 3,89%. A meta de inflação para este ano é de 4%.

No leilão, o Tesouro reduziu o tamanho da oferta de LTN, de 24,5 milhões na semana passada para 15,5 milhões e vendeu quase tudo, 15,04 milhões. Conseguiu também elevar a quantidade de NTN-F ante a operação passada, 800 mil para 1,3 milhão (1,255 milhão vendidas).

O DV01 (medida de risco) do leilão, em relação ao anterior, subiu de R$ 2,84 milhões para R$ 3,17 milhões, segundo a Renascença DTVM, mas ainda assim a oferta foi bem recebida e não trouxe estresse à curva. Ao contrário, as taxas dos DIs renovaram mínimas nas duas horas seguintes ao fim do leilão, em função do desmonte de operações de hedge. “Com o aumento das emissões de NTN-B (principalmente da B23) o Tesouro tem diminuído as colocações nos leilões de quinta-feira. O net das emissões semanais segue acima de R$ 30 bilhões, só que mais ponderado entre os indexadores”, afirma Fernando Cevi Ferez, estrategista de renda fixa da Renascença DTVM, em relatório. (Denise Abarca – denise.abarca@estadao.com)