10/08/2022 - 17:49
Os juros futuros passaram a quarta-feira em queda, mas reduziram sensivelmente o ritmo na hora final da sessão regular, acompanhando a piora no segmento de Treasuries e a diminuição das perdas do dólar ante o real, com alguns contratos fechando perto dos ajustes anteriores. Na maior parte do dia, porém, o movimento de realização parcial de lucros que na terça-feira puxava as taxas para cima foi engolido pelo impacto do índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos abaixo do consenso, que ampliou as apostas numa atuação mais moderada do Federal Reserve.
Como, ao mesmo tempo, o mercado vai consolidando a expectativa de Selic estável a partir de agora e já trabalhando a ideia de início dos cortes a partir do primeiro semestre de 2023, houve conforto para a retomada de risco. As vendas no varejo pouco piores do que a mediana das estimativas deram alguma contribuição para o recuo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou estável em 13,72% e a do DI para janeiro de 2024 passou de 12,95% no ajuste de terça para 12,93%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 11,875%, de 11,907%, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,773% para 11,715%.
O CPI cheio e o núcleo mais fracos do que o mercado previa deram gás para a queda das taxas desde a manhã, enquanto aqui a retração das vendas do varejo foi mais forte do que apontavam as medianas das estimativas. Os vencimentos longos dos DIs, mais uma vez, foram destaque, chegando a devolver nas mínimas do dia em torno de 25 pontos-base em alguns contratos.
O varejo restrito teve retração de 1,4% em junho ante maio, ante mediana de -1,0%, e as vendas do varejo ampliado caíram 2,3%, ante mediana de +0,2%. Além disso, os dados de maio foram revisados para baixo. Mesmo sendo de junho, os números acabaram servindo de argumento para a redução de prêmios na curva, na medida em que endossam a ideia de que a Selic não deve mais subir.
André Alírio, operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, afirma que o comportamento da curva nesta quarta representa a junção da ideia de aumentos menos expressivos de juros lá fora com as apostas no fim do ciclo de altas da Selic, embora acredite que a taxa básica, hoje em 13,75%, ainda possa chegar a 14%. “E o mercado não se contenta em só apostar no fim do ciclo como já começa a especular sobre os cortes”, disse.
Alírio, da Nova Futura, acrescenta que também é necessária alguma cautela com a percepção de que o pior da inflação americana ficou para trás, porque em boa medida o alívio no CPI decorreu da queda em preços de energia e combustíveis. “São itens muito voláteis e temos preços de alimentos ainda em níveis elevados”, afirma.
De todo modo, as apostas de que o Federal Reserve deve reduzir o ritmo de alta do juro para 50 pontos na reunião de setembro ganharam força, provocando forte ajuste no rendimento dos Treasuries na primeira etapa. A taxa da T-Note de dez anos chegou a rodar no patamar de 2,68%, de 2,79% na terça, mas no fim da tarde voltava a 2,78%. O CPI também produziu efeitos no mercado de câmbio, com o dólar aqui chegando a mínimas na casa de R$ 5,03, mas no fechamento já estava em R$ 5,085.