Os juros futuros subiram nesta quinta-feira, em trajetória oposta a das curvas no exterior e das commodities, que caíram. Num dia de agenda e noticiário domésticos sem destaques, a sessão teve caráter técnico bem marcado em função do leilão grande de prefixados do Tesouro, cuja oferta foi absorvida integralmente.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 avançou de 13,11% no ajuste anterior para 13,20% e a do DI para janeiro de 2025, de 11,96% para 12,13%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 11,89%, de 11,67% no ajuste anterior.

Após iniciarem o dia perto da estabilidade, as taxas começaram a subir ainda pela manhã, com o mercado na expectativa pelos lotes de LTN e NTN-F que o Tesouro divulgaria às 10h30 e até então com o retorno da T-Note de dez anos ainda em alta. Os volumes de 19 milhões de LTN e de 600 mil vieram abaixo dos megalotes da semana passada, mas com DV01 (risco) elevado, de US$ 749 mil segundo a Necton Investimentos. As máximas foram atingidas logo após a operação, com players ajustando posições de proteção no DI contra o risco prefixado dos papéis.

Sobre o leilão de LTN, o especialista em renda fixa e professor ligado a Mercado Financeiro na B3, na Anbima e FIA, Alexandre Cabral, lembrou que a operação teve o segundo maior volume do ano e que as taxas subiram, “mas nada que preocupe”. Mais uma vez a oferta da LTN 1/1/2026, de 15 milhões nesta quinta, foi destaque. “Acho que gringo está comprando a Jan26. Só ela deu um volume de R$ 10,27 bi”, escreveu, no Twitter.

“O leilão, grande, fez preço, num ambiente de certa expectativa com Jackson Hole”, comentou o estrategista da Tullett Prebon Vinicius Alves.

O Simpósio que reúne banqueiros centrais terá seu ponto alto na sexta-feira, com o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Enquanto aguardam pela sinalização sobre a política monetária, os investidores digeriram o PIB fraco da economia dos EUA, mas que não aliviou as apostas de elevação de juro em 75 pontos-base e o mercado segue dividido ante a opção de alta de 50 pontos.

A queda de 0,6% do PIB americano do segundo trimestre, na segunda leitura, foi menor do que na primeira prévia (-0,9%), mas acima da mediana estimada (-0,5%), confirmando, de todo modo, o quadro de recessão técnica. Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE, em inglês), medida preferida de inflação do Fed, ficou em 7,1% no segundo trimestre, repetindo a estimativa original. O núcleo do PCE, que desconsidera preços de alimentos e energia, subiu 4,4% no mesmo intervalo, também confirmando a leitura prévia do dado.

Alves, da Tullett, pondera que apesar da queda nos rendimentos, a curva dos Treasuries teve um movimento de “flattening” nesta quinta, com a taxa do papel de dez anos caindo bem mais do que a de dois anos, refletindo a possibilidade de um aperto monetário mais firme no curto prazo gerar recessão mais adiante.

Nesse contexto, no fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos estava em 3,03%, de 3,10% na quarta, e a da T-Note de 2 anos, em 3,39%, de 3,40% na quarta-feira.