Os juros futuros fecharam a sessão em queda com base nas declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre ontem e esta manhã, que reduziram a tensão com a política fiscal e monetária que vinha pressionando os prêmios de risco nos últimos dias. De acordo com ele, a apresentação do novo arcabouço fiscal foi antecipada para março e, além disso, não está na pauta do Conselho Monetário Nacional (CMN) de amanhã a discussão sobre as metas de inflação. Como resultado, o mercado voltou a apostar em corte da Selic no primeiro semestre, conforme a precificação da curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,28%, de 13,44% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,86% para 12,61%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,88%, de 13,13% ontem. A do DI para janeiro de 2029 recuou de 13,44% para 13,23%.

Como a celeuma em torno da mudança nas metas vem prejudicando a curva há algumas semanas, a informação, dada ontem pelo ministro após o fechamento do mercado, de que o assunto não estará na pauta do CMN amanhã já deu a senha para um alívio nas taxas logo pela manhã, dada a leitura de que o Banco Central com isso ganha algum tempo até a temperatura baixar. Os agentes vinham reiterando que a discussão sobre uma alteração dos alvos não é descabida, mas sim inapropriada para um momento de dúvidas sobre a questão fiscal. Por isso mesmo é que o ajuste em baixa das taxas ganhou tração depois que Haddad adiantou que o governo pretende antecipar a nova regra fiscal de abril para março.

Haddad voltou a citar a que trabalha pela harmonização da política fiscal com a política monetária e para construir a narrativa sobre o tema. Disse ainda que ser necessário compreender que o Brasil não vai levar a inflação de 6,0% para 3,0%, referindo-se ao centro da meta estabelecido para os anos de 2024 e 2025.

“Além de colaborar para dar previsibilidade ao gasto e ao resultado primário, o envio da proposta da nova regra fiscal ao Congresso colaborará para amainar as pressões sobre a política monetária”, afirma o economista-chefe da Warren Rena, Felipe Salto, para quem o novo arcabouço pode corrigir distorções do teto de gastos, sem prescindir de uma limitação explícita para a despesa. “É fundamental que se avance na área fiscal para desanuviar os cenários e engatilhar eventual ciclo de afrouxamento monetário.”

Na precificação da curva, o resultado foi uma antecipação das chances de queda da Selic para o primeiro semestre. Cálculos da BlueLine Asset apontam possibilidade de corte de 25 pontos-base em junho, com a Selic encerrando o ano em 12,75%, que também é a mediana da pesquisa Focus.

Gerou alguma surpresa entre os agentes o posicionamento de três dos maiores fundos de investimentos do mercado brasileiro em defesa da revisão das metas. Rogério Xavier (sócio-fundador da SPX Capital), Luis Stuhlberger (da Verde Asset) e André Jakurski (da JGP) se posicionaram a favor da mudança durante evento do BTG Pactual nesta manhã, do qual também Haddad participava.

“A meta de inflação que foi acertada dois, três anos atrás está errada. Por que não pode mudar? Ah, porque vai desancorar as expectativas. As expectativas já estão desancoradas”, disse Xavier, para quem a pressão sobre a curva não têm a ver com isso e sim com o pacote fiscal de Haddad.

Anfitriões do evento, os economistas do BTG se posicionaram de forma contrária à mudança. O estrategista-chefe da BTG Asset e ex-diretor do BC, Tiago Berriel, disse fazer pouco sentido a meta de inflação no Brasil ser maior do que a de outros emergentes no longo prazo. Para ele, a elevação da meta pode piorar as expectativas para os preços, demandando assim juros mais altos, e, ainda que a discussão não esteja na pauta da reunião de amanhã do CMN, ela “não morreu”.

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