29/03/2023 - 18:14
Os juros futuros fecharam o dia em alta. Após passarem a manhã oscilando perto dos ajustes de ontem, os juros futuros subiram à tarde, computando um conjunto de dados da seara econômica e acerca do arcabouço fiscal que acabaram por fortalecer a mensagem da ata do Copom publicada ontem, considerada hawkish. Os ruídos em torno da proposta e a demora do governo em divulgá-la pressionaram especialmente a parte longa da curva, enquanto o saldo do Caged muito acima da mediana das estimativas e a mudança da cobrança do ICMS sobre combustíveis fizeram bastante preço até o trecho intermediário.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,21%, de 13,15% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,00% para 12,15%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,29%, de 12,16% ontem, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 12,71%, de 12,63%.
Após a reação negativa de ontem à ata, a curva esteve relativamente bem comportada pela manhã, com o ambiente externo ameno e o recuo do dólar ancorando as taxas perto da estabilidade, com a ajuda da nota de crédito do Banco Central. A redução dos estoques, a alta dos juros e a queda das concessões em fevereiro alimentaram o debate que apareceu no documento sobre os efeitos na atividade econômica de uma possível contração de crédito mais intensa que a projetada, e se o Copom não teria exagerado na sinalização dura da sua comunicação, avisando que pode voltar a subir os juros caso não haja convergência da inflação para as metas.
Mas o mercado tem estado cada vez mais sensível ao noticiário em torno do novo arcabouço, apreensivo com as idas e vindas diárias sobre quando será conhecido. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostrou confiança de que poderia ser concluído hoje após reunião com o presidente Lula nesta tarde, mas deixou claro que a definição sobre quando será divulgado cabe ao presidente. Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, declarou que deve ser apresentado pelo governo na sexta-feira, 31.
“Quanto mais tempo demorar a vir a público, mais preocupação vai gerar, pela sinalização de que Lula não quer dar aval ao que a equipe econômica está propondo. Até agora, a regra esteve nas mãos dos técnicos. Agora vem o filtro político”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Depois da ata falar em arcabouço fiscal “sólido e crível”, o mercado redobrou a atenção no noticiário sobre o que poderão ser as premissas da nova regra. As taxas longas foram às máximas à tarde com a informação, apurada pelo Valor Pro junto a fontes, de que a norma deverá estabelecer que as despesas evoluirão, no mínimo, segundo o crescimento do PIB per capita. No fim da tarde, o movimento sobre a curva era suavizado após o colunista da GloboNews, Valdo Cruz, afirmar que o arcabouço propõe zerar o déficit em 2024 e prever superávit em 2025.
O economista-chefe da Warren Rena, Felipe Salto, defendeu que o governo precisa acelerar o anúncio para neutralizar “boatos e vazamentos” que começam a fazer preço nos ativos. “O anúncio do arcabouço fiscal precisa ser acelerado, sobretudo diante de notícias como esta, que acabam turvando as análises e prejudicando o andamento dos mercados e da economia”, escreve o analista, em referência à informação do Valor Pro.
Já os vértices intermediários foram afetados por dados macroeconômicos com impacto direto sobre a percepção para a política monetária. Várias casas promoveram revisões nas suas expectativas de IPCA este ano depois que o Confaz determinou mudança da tributação do ICMS sobre a gasolina e o etanol, que passará a ser ad rem (valor fixo) de R$ 1,45 por litro a partir de julho. O impacto na inflação em 2023 é estimado em 0,50 ponto porcentual. Na agenda, o saldo do Caged, de 241.785 vagas em fevereiro, superou em larga medida a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 156,5 mil postos, com intervalo entre 124,70 mil a 261,430 mil vagas.