Em sequência ao rali dos últimos dias, os juros futuros completaram quatro sessões seguidas de baixa nesta sexta-feira, ainda embalados pela entrada de fluxo estrangeiro, mas a queda desta sexta já foi menos robusta que as anteriores. O movimento teve respaldo da volta do apetite pelo risco global, apoiada na leitura do payroll norte-americano de agosto que freou o avanço das apostas de ação mais agressiva do Federal Reserve. As taxas dos Treasuries tiveram alívio e o dólar teve queda generalizada. No balanço da semana, a curva recuou praticamente em bloco, com pouca mudança nos níveis de inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,84%, de 12,87% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,75% para 11,71%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,47%, de 11,54%. Na semana, as taxas em geral tiveram alívio entre 25 e 30 pontos-base, ante os níveis da última sexta-feira.

Após três sessões de recuo consecutivo, havia até espaço nesta sexta para alguma correção na curva, mas o mercado acabou adiando eventual ajuste, na esteira da reação ao relatório de emprego nos Estados Unidos. A criação de vagas em agosto, de 315 mil, veio pouco acima do consenso (300 mil), mas a alta dos salários não subiu como o esperado e a taxa de desemprego avançou, ante previsão de estabilidade. Ainda que economistas ponderem ser necessário esperar pela inflação ao consumidor de agosto, que sai só dia 13, os números desta sexta esfriaram a aposta de nova elevação de 75 pontos-base no encontro do Fed deste mês.

Nos Treasuries, a taxa da T-Note de dez anos chegava ao fim da tarde em 3,19%, de 3,26% na quinta, mas a que mais caía era a da T-Note de dois anos, de 3,51% para 3,40%, que melhor reflete as perspectivas para o juro americano no curto prazo. O Índice Bloomberg Global Aggregate Total Return mostra que o mercado de títulos dos Estados Unidos entrou em seu primeiro bear market – caracterizado por queda de ao menos 20% ante o pico mais recente – em mais de 30 anos.

Nesse contexto, o operador de renda fixa da Mirae Asset Paulo Nepomuceno explica que o Brasil se torna naturalmente um destino atrativo ao fluxo de capital, ao combinar juros elevados e melhora recente dos fundamentos econômicos. “Há poucas opções hoje para se alocar recursos, sobretudo entre emergentes. Rússia? Chile?”, questiona, lembrando que o país do leste europeu está em guerra e que o vizinho latino passa por turbulências políticas. “Sobrou o Brasil, que tem prêmios de risco atrativos e um mercado de derivativos que segura bem a conversibilidade da moeda”, disse.

Em relatório, o Banco Inter ressalta que a curva de juros teve forte fechamento em agosto, com os sinais de queda da inflação e consolidação da aposta de fim do ciclo de alta da Selic. “O mercado precifica a primeira redução da Selic em março de 2023, mas a queda esperada ainda é bastante modesta perto do possível movimento de afrouxamento monetário ao longo do próximo ano, considerando uma expectativa de inflação caindo para abaixo de 5% no ano que vem”, afirmam os economistas no relatório assinado pela economista-chefe, Rafael Vitoria.