Por Victória Ribeiro

Filho de pequenos produtores, Leandro Scalabrin decidiu sair de Medianeras, no interior do Paraná, aos 17 anos para estudar tecnologia. Ainda na universidade, fundou o Grupo SWA, empresa responsável por desenvolver soluções tecnológicas para os setores de educação e cooperativas de crédito. Passados dez anos de história, a companhia, que faturou R$ 12 milhões em 2023, agora mira em uma nova ramificação: o agronegócio. Inspirado na vivência dos seus pais e na percepção sobre a falha na comunicação entre as partes envolvidas no comércio de alimentos, Scalabrin desenvolveu a Laços do Agro, plataforma que liga pequenos produtores a cooperativas agrícolas e ao mercado. A solução, disponível desde abril do ano passado, já alcançou mais de 50 cidades e 700 produtores. Para 2024, a intenção é alcançar os R$3 milhões em faturamento. “Buscamos proporcionar uma venda garantida e empoderar os pequenos produtores, inserindo-os em mercados maiores. Queremos mostrar que não é necessário ser gigante para ter segurança na lavoura e alcançar bons resultados”, afirmou Leandro Scalabrin, CEO do Grupo SWA à DINHEIRO RURAL.

 

Leandro Scalabrin com os pais e a tela do aplicativo: meta de ter 20 mil clientes ainda em 2024 (Crédito:Divulgação )

Segundo o executivo, a plataforma funciona da seguinte maneira: as empresas compartilham suas demandas previamente e os agricultores interessados manifestam o interesse em produzir“A partir disso, nós organizamos a produção do pequeno produtor, determinando o dia que ele precisa iniciar o cultivo com base no ciclo de cada cultura”, disse Scalabrin. Através desse sistema, ele diz que é possível diminuir a perda de produção e equalizar o mercado, mitigando o excesso de um produto e a escassez de outros.

Esse tipo de conexão entre a oferta e demanda também contribui com outros dois grandes benefícios:
• segurança alimentar,
 elaboração de políticas públicas.

Além dos envolvidos diretos na plataforma, a Laços do Agro inclui a participação de nutricionistas, que avaliam a diversidade de alimentos que estão sendo direcionados ao mercado, repassando as informações para as empresas compradoras. Quando se trata do poder público, o envolvimento acontece por meio do monitoramento das sazonalidades.

“É possível identificar regiões onde produtores perdem produção por chuva de granizo ou escassez hídrica, por exemplo. Dessa forma, o governo consegue ter a compreensão sobre os lugares que necessitam de soluções como estufas e irrigação”.

Não é necessário ser gigante para alcançar bons resultados em termos de qualidade

Se todos os agricultores familiares do Brasil formassem um país, seria o oitavo maior produtor de alimentos do mundo. O dado está no Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2023, divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Segundo a pesquisa, as propriedades de agricultura familiar somam 3,9 milhões no país, representando 77% de todos os estabelecimentos agrícolas. Já em relação à área ocupada, elas representam 23% do total, o equivalente a 80,8 milhões de hectares. Para se ter uma ideia, isso é quase toda a área do Mato Grosso.

Segundo Scalabrin, o projeto foi julgado por envolver uma classe “com baixo poder aquisitivo”, mas, para ele, os números refletem a relevância do setor e o potencial do negócio“Envolver esses pequenos produtores com a tecnologia não contribui só com uma alimentação de qualidade, mas também com a economia como um todo, inclusive com a diminuição da desigualdade de renda”, disse ele.

 

(Crédito:Divulgação )

DADOS PRECISOS

Dentre os principais desafios referentes à plataforma, Scalabrin cita a ausência de conectividade e a falta de familiaridade com o mundo tecnológico.

Como estratégia para driblar esses problemas e garantir um uso claro intuitivo de acordo com o possível repertório dos usuários, o layout teve como inspiração o Whatsapp, rede social mais usada no país, com cerca de 147,2 milhões de usuários segundo dados do Statista.

Além disso, o aplicativo funciona no modo offline, possibilitando que parte das funções sejam operacionalizadas sem a necessidade de conexão com a internet.

Através dessa estrutura, o plano, segundo Scalabrin, é alcançar 200 cooperativas e mais 20 mil produtores ainda em 2024. Além disso, ele ressalta o empenho em aprimorar os painéis de indicadores para auxiliar governos no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a agricultura familiar. “Com dados mais precisos e abrangentes, poderemos fornecer informações relevantes e atualizadas, permitindo que os governos tomem decisões mais assertivas”.