01/05/2021 - 13:00
O administrador de empresas e técnico do setor de petróleo e gás Diego de Sá Pires, de 30 anos, tem hoje um décimo de uma lancha e também 10% de um jet-ski. Quando decide usar uma das embarcações, verifica a disponibilidade em um aplicativo em seu celular. Na data marcada, Pires encontra a embarcação à sua espera, pronta para uso. Todos os custos de manutenção, assim como os de seguro, são divididos por dez. A promessa de quem faz a venda compartilhada de produtos de luxo é tornar esses bens acessíveis a um número maior de consumidores.
“Além do preço acessível, é cômodo e seguro. Foi a realização de um sonho”, diz ele, que fez a primeira aquisição de uma cota de embarcação em 2015. Como existe um mercado de revenda de cotas, o administrador de empresas já fez a troca algumas vezes e planeja seguir com essa substituição por embarcações mais novas e modernas. “Sem dúvida, a pandemia mostrou para muitas pessoas que o isolamento é necessário e, com certeza, não existe lugar melhor do que o mar para se isolar”, conta.
A pandemia de covid-19 e a necessidade de isolamento social fizeram mesmo o mercado de embarcações no Brasil dar um salto. A empresa Boatlux, que atua desde 2012 com a venda compartilhada, viu apenas no ano passado as taxas de administração de suas franqueadas (as marinas) subirem 50%.
“Toda a indústria da área náutica teve crescimento muito grande no ano passado. Em 2016, eu tinha 12 embarcações; hoje, estamos com 160 embarcações ativas e estamos vendo uma consolidação desse modelo de negócio”, comenta Carlos Júnior, sócio da Boatlux, que tem presença em 18 Estados brasileiros.
Há também consumidores migrando do formato tradicional para o compartilhado, como no caso de Reinaldo Bonilha, 50 anos, que trabalha com comércio exterior e mora em Votorantim (SP). A lancha própria, que ele costuma utilizar para passeios em uma represa em sua cidade, foi comprada há alguns anos. Já a primeira experiência com compartilhamento veio em setembro de 2020. Ao adquirir um sexto de uma lancha, pôde optar por um modelo maior do que havia imaginado inicialmente. Essa embarcação fica em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Ele diz que a economia faz sentido: “É um equipamento de alto custo e de pouco uso”.
Estilo de vida
De acordo com dados da Associação Náutica Brasileira (Acatmar), o ritmo de crescimento do setor dobrou no ano passado, quando a expansão chegou a 30% – mesmo porcentual mantido no acumulado de 2021. O presidente da entidade, Leandro Ferrari, comenta que o crescimento, impulsionado pela pandemia, também ocorreu na esteira do mercado mais robusto de seminovos e pelo mercado de venda compartilhada. “Barco não é coisa só para rico.”
As vendas compartilhadas têm representado uma fatia cada vez maior da venda de embarcações pelas fabricantes – e a tendência deve se intensificar, prevê Allan Triton, dono da Triton Yachts. Segundo ele, das 50 embarcações vendidas no ano passado, sete foram pelo modo de compartilhamento.
A empresa produz 18 modelos de embarcações, de preços que variam de R$ 250 mil a R$ 4 milhões. “A procura aumentou muito. Além de ser uma forma de lazer de forma isolada, teve ainda a questão de restrições às viagens internacionais e a atual taxa de câmbio, o que fez também com que a demanda crescesse”, explica.
Para o principal portal de vendas do setor, o Bombarco, a economia compartilhada veio para ficar. “É uma tendência mundial e está em crescente expansão. No Bombarco, percebemos uma procura sobre o tema 30% maior durante a pandemia”, afirma Marcio Ishihara, diretor da empresa.
Acima da média
Já All Flags vê o segmento de compartilhamento de embarcações com um crescimento ainda superior ao projetado pelo resto do mercado. “Vamos vender três vezes mais barcos compartilhados em 2021 do que vendemos no último ano”, comenta o sócio-diretor da empresa, Paulo Hiroshita. Segundo ele, a pandemia funcionou como um gatilho para o crescimento. “Isso fez com que a náutica fosse opção para esse novo estilo de vida. E, dentro da náutica, a compra compartilhada foi uma excelente alternativa pelas facilidades que oferece.”
Segundo ele, o público da venda compartilhada poderia comprar uma embarcação individualmente, ao contrário do que se pode imaginar, mas as facilidades do sistema de cotas acabam sendo atraentes. “Ele quer ter acesso à náutica sem se preocupar com todas as responsabilidades e demandas que um barco gera. Percebemos que a nova geração está bem alinhada com esse tipo de consumo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.