A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) tem alertado, constantemente, que garantir a alimentação no mundo será o maior desafio deste século diante dos impactos das altas e baixas temperaturas, cuja variação sem precedentes tira até São Pedro do sério. Com as mudanças climáticas, todos sofrem. Não custa nada pedir ajuda ao santo, mas o certo é que o agricultor pode e deve fazer sua parte: ao adotar as boas práticas no campo, é possível aumentar a produtividade e reduzir as perdas na lavoura, causadas, principalmente, por fatores climáticos extremos, como secas, geadas e enchentes. Segundo Magda Lima, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna (SP), em função disso, muitas culturas estão em deslocamento geográfico.

“O foco das pesquisas está em variedades adaptadas”

Magda lima, pesquisadora da Embrapa

A do café, por exemplo, deixou o Paraná por causa das geadas frequentes, radicando-se no Cerrado mineiro, onde as condições são mais favoráveis. “Outros casos são os da cana-de-açúcar e da soja, culturas que nas duas últimas décadas ocuparam áreas onde havia pecuária”, diz Magda. Institutos de pesquisas, como a própria Embrapa e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), que desenvolvem variedades de culturas resistentes, de acordo com as condições de cada solo e clima, por regiões, também contribuem para que esse deslocamento apresente resultados positivos. “Hoje, o foco das pesquisas está direcionado a estudos sobre cultivares adaptados e resistentes para cada região e que produzam mais rapidamente”, diz Magda.

Ainda de acordo com a pesquisadora, o campo também evoluiu e os produtores recebem assistência técnica dessas instituições, que vão do plantio à colheita, incluindo ainda alertas sobre o comportamento climático. “É importante mostrar aos produtores que as variedades precoces, aliadas à atenção ao clima, também entram no contexto da sustentabilidade.” Para Magda, essas práticas proporcionam ao produtor opções de plantio, como trocar o cultivo de uma cultura por outra. “Antigamente, isso não era previsto”, diz.

Tempo frio: zoneamento agrícola minimiza risco de perdas no inverno

Outra vantagem para os agricultores, na atualidade, está no zoneamento agrícola de risco climático, que permite determinar a melhor época de semeadura e a semente mais adequada a cada área de plantio. Para o Estado do Paraná, os institutos de pesquisa já realizaram o zoneamento agrícola para cerca de 40 culturas. Porém, por ser uma prática recente, o agricultor ainda não tem o hábito de utilizar a informação específica sobre risco climático no momento de definir o plantio. Um exemplo ruim dessa falta de prática ocorreu em junho, mês em que 16 municípios paranaenses foram castigados pela seca. No caso do trigo, o impacto da escassez de água comprometeu a germinação da cultura, reduzindo o tamanho das espigas.

Como se não bastasse o tempo seco, na sequência, em julho, o triticultor enfrentou baixas temperaturas, que ocasionaram fortes geadas. “No Norte e no CentroSul do Estado, as culturas do trigo e milho estavam em estágio inicial, o que resultou em perdas acentuadas”, diz Carlos Hugo Godinho, diretor interino do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná. Segundo Godinho, no caso do trigo, cerca de 40% das lavouras encontravam-se em fase de floração quando ocorreram as geadas, o que comprometeu 57% da produção, concentrada nas regiões Oeste e Norte do Paraná.